Sempre tive uma relação de amor e ódio com a minha caligrafia. Mais ódio do que
amor, pra ser justo. Acho que ela é irregular, nunca fui capaz de manter o mesmo
estilo de letra por um longo período de tempo. Tomo como base a letra do meu pai,
que considero muito bonita, e é exatamente a mesma desde sempre. Minha letra
muda, às vezes de um dia para o outro. Não sei explicar o motivo.
Mas isso jamais me impediu de usá-la bastante, para os mais variados fins. Das
provas do colégio aos garranchos da faculdade; da lixa do skate às anotações das
tarefas diárias de trabalho. O papel e a caneta estão sempre ao lado do computador,
garantindo a simbiose do mundo analógico com o digital.
Entretanto, creio que dá pra cravar com relativa tranquilidade que nunca imaginei que
a minha (pobre) caligrafia fosse parar numa camiseta. Mas aconteceu. A foto não me
deixa mentir. Essa edição limitada da (divisão de vestuário) CemporcentoSKATE foi
lançada em 2008, e a ideia foi prestar uma homenagem às coletâneas que gravávamos
em fitinhas “nos tempos antigos”, como diz o meu filho.
Botei no papel alguns hits do universo da skate music, selecionando petardos do punk,
do indie e do rap. Na sua maioria, músicas que marcaram época em vídeos de skate,
mas também alguns clássicos executados em festas, campeonatos ou programas de
TV. Para acionar o mecanismo nostálgico da experiência do k7, fiz ali uma
brincadeira com a faixa “Atlas”, no lado A: acontecia frequentemente de perdermos
pedaços de músicas nos finais dos lados das fitas. Era na base do “olhômetro”: “Acho
que cabe mais uma música curta aqui” ou “Foda-se se cortar, depois coloco inteira no
começo do lado B”.
Com os novos recursos disponíveis não temos mais esse problema – nenhuma música
foi cortada na mixtape que disponibilizamos no Spotify. Até poderia sugerir pra você
ouvir onde e quando quisesse, mas o que me deixaria muito lisonjeado é se você
ouvisse na sessão.
Até breve.