A HORA MÁGICA

 

O processo de edição da revista impressa ainda é curioso pra mim. Óbvio, existe um deadline, prazos comerciais a serem cumpridos, disponibilidade de gráfica, faturamentos. Mas o momento em que ele começa é sempre um mistério.

Muitas vezes, numa decisão tomada por pura falta de espaço físico, decide-se que algo “fica pra próxima”.  Na editora “fica pra próxima” não tem o sentido coloquial da expressão, que quase sempre quer dizer “até nunca mais”: é um compromisso assumido com a próxima edição. Então é aí que ela nasce.

Outras vezes, as coisas vão aparecendo, modorrentas, vão ficando ali burocraticamente arquivadas, seus espaços vão se definindo e o trabalho segue um ritmo de repartição pública. Mas o momento mágico é quando algum acontecimento, foto, texto ou ideia surge e me tira imediatamente do campo racional, emociona. É a hora que vejo que a edição vai, de fato, existir, e sinto na minha euforia a empolgação de quem vai ver aquilo impresso dali alguns dias. No caso da edição atual essa foto do Rica Alves foi esse fato determinante.  Cheguei até a postar um cantinho dela na minha conta pessoal do Instagram, tamanha minha vontade de celebrar a imagem. Naquele dia, ainda que faltassem outras oitenta e tantas páginas pra serem preenchidas, eu sabia que o trabalho estava resolvido.

Foi o Allan (Carvalho) quem fotografou e me mostrou sem grandes apresentações. Tantas vezes ele veio a mim super empolgado com arquivos que não me fizeram brilhar os olhos, ainda que na maioria dos casos acabem publicados e sejam muito elogiados. Afinal, a beleza está nos olhos de quem vê, e editor nenhum do mundo enxerga por todos eles. Portanto, acho natural e fico muito feliz quando coisas pelas quais não necessariamente me apaixonei sejam admiradas e reverenciadas. A revista não é pra mim.

Voltando para a edição em questão, energia boa atrai coisa boa, a partir daí outras imagens e assuntos interessantes surgiram sucessivamente (o inacreditável feito do Nicholas Dias e a ilustração da Bortolo, pra me ater em dois exemplos apenas), formaram um bolo editorial dos mais ricos e se transformaram na 217. Esse ollie do Ricardinho está lá, impresso em página dupla. E é uma das fotos de skate mais bonitas que já vi.