A passagem da caravana da SLS por São Paulo foi memorável. Casa cheia, nível técnico de skate pra lá de impressionante, nomes do momento atual e da história do skate presentes, em abundância. Pra ficar num exemplo: debaixo do mesmo teto, Ty Evans, Anthony Claravall e Josh Friedberg, três videomakers que fizeram boa parte dos filmes que ajudaram a mostrar ao mundo o que o skate é de verdade.
Minha ida pra esse “World Championships” começou cedo, ainda na terça feira, numa missão um pouco diferente: acompanhar Danilo do Rosário, profissional brasileiro com extensa experiência no skate, seja em campeonatos, vivendo e sobrevivendo por anos no mercado americano e também como integrante do comitê de street da CBSk. Seria a primeira participação dele numa etapa da liga da rua.
COLANDO CEDO
Logo as 10:00h da manhã estávamos no Parque do Anhembi. Funcionários continuavam montando a estrutura (impressionante,sob todos os aspectos) ao redor da área de competição, que já estava pronta e apresentava obstáculos bem altos. Na hora de fazer a inscrição, um contrato de diversas páginas chega pro Danilo. A colaboradora que usava a camiseta da Street League falava em inglês, até, alguns minutos depois, descobrir que o Danilo era tão brasileiro quanto ela. Uma breve leitura, tudo rubricado/assinado e o próximo passo: saldar os US$ 200,00 e garantir a inscrição. Num momento em que o câmbio é pra lá de desfavorável, isso se tornou cerca de R$ 850,00, a serem pagos apenas em espécie. E lá vamos nós, procurar um caixa eletrônico.
A boa lição de chegar cedo ao compromisso vale aqui: o tempo que o Danilo teria, uma hora pra reconhecer a área, e começava as 11:00h. Ou seja, se ele tivesse chegado em cima da hora, perderia minutos preciosos. Vale pra final da SLS, vale pro campeonato de fim de semana da quadra do seu bairro: se é pra competir, se prepare, em todos os aspectos.
NA RUA É DIFERENTE
Aí você pode imaginar que saímos, achamos o caixa, sacamos o dinheiro e voltamos pro Anhembi, certo? Correto, mas não sem antes termos sido parados por dois PMs interessados em saber o aqueles três elementos faziam, com skates no carro, vagando pela zona norte num dia de semana as 10:20h. Sim, três: conosco estava também Anderson Rezende, de Fortaleza (CE). Minutos perdidos, uma conversa que começou tensa e terminou tranquila, documentos conferidos e aprovados e uma indicação para o Banco 24h mais próximo. Tudo resolvido. Se dentro do pavilhão e diante das câmeras o skatista é atleta olímpico, respeitado e idolatrado, quem está na rua sabe: skatista é suspeito até prova em contrário. Sorte se tiver a chance de apresentá-la.
De volta a arena, o Danilo andou, assim como quase todos naquele dia, de leve, reconhecimento de terreno mesmo, sem arriscar. Xaparral (que só andou neste dia: problemas de saúde o deixaram de fora), Tiago Lemos, Luan de Oliveira eram alguns dos que dividiram a rápida sessão, que se repetiria no dia seguinte. Dessa vez já inscrito e sem PMs no caminho, Danilo já pode se concentrar apenas no skate e se soltar mais, acertando algumas manobras já pensando na linha que faria no dia seguinte, valendo classificação pra seguir adiante.
PRIMEIRA (E ÚLTIMA) CHANCE
Quinta feira: Danilo e mais 111 inscritos disputariam 20 vagas pra seguir na disputa, chamada aterrorizantemente de “Last Chance Qualifier”. Entre os 111: Lucas Rabelo, Luan, Tiago Lemos, Torey Pudwill, Jamie Foy, Chris Joslin, Andy Anderson, Sean Malto, Jaako Ojanem, Angelo Caro, Yukito Aoki, Daisuke Ikeda…enfim,uma guerra mundial. Alex Midler e o filipino Daniel Ledermann dividiram os breves três minutos da jam session com o Danilo. Depois de incontáveis baterias, horas e manobras, abro aspas pra informação vinda através da assessoria de imprensa da CBSk: “Lucas Rabelo (20º) foi o único brasileiro que avançou nas classificatórias globais. Além dele, Tiago Lemos (36º), Luan de Oliveira (43º), Mike Dias (44º), Patrik Mazzuchini (58º), Rodil Ferrugem (60º), Danilo do Rosario (75º), Silas Ribeiro (82º), Lucas Alves (85º), Rogerio Febem (90º) e Lehi Leite (95º) não conseguiram passar.”

Frontside nosebluntslide (foto Rodrigo KBÇa)
Julgar um dia desses, com essa quantidade de competidores em tão pouco tempo de observação é tarefa tão difícil quanto acertar alguma manobra de flip in no gap to rail maior. Fica difícil até discutir ou argumentar os escolhidos/classificados. É parabenizar os que passaram e seguir o baile.
PRA FECHAR
Deixo pro Danilo as últimas palavras, e agradeço por ter vivido essa experiência com ele.
“Foi um experiência diferente de todos os eventos que já participei. Começando pelo formato da eliminatória. Achei esquisito quando vi a bateria de aquecimento, todos do Brasil em uma bateria e cada país tinha sua hora de aquecer. Isso praticamente eliminou o diálogo entre os skatistas ‘atletas’. Não achei isso saudável, pois skate une e ali ele estava separando as nacionalidades, uma bela oportunidade de intercâmbio desperdiçada. Participei muito dos eventos europeus, e lá a gente estava com todos e era muito divertido. A estrutura do SLS é incrível, o visual do evento, o formato da pista, sem palavras! E o que foi aquela final? Realmente o Nyjah é foda, não só ele mas todos ali na final, mas o destaque foi ele o que foi aquele cab flip bs boardslide? Espero que a cidade de São Paulo possa ter uma noção do verdadeiro tamanho que o skate está e foquem em qualidade de skateparks e não em quantidade! Fiquei muito feliz de ver gente do Brasil inteiro que colou e lotou as arquibancadas, fazendo a festa ficar linda!”