Passado os dez dias, no domingo me peguei recordando alguns momentos marcantes pra mim durante o Das Days, evento da adidas Skateboarding que movimentou a cidade de São Paulo de 26 de julho a 04 de agosto. Quem pôde participar do evento em algum momento teve a oportunidade de conhecer a simplicidade e a boa convivência que fazem o skate ser o que ele é.
Num momento em que a televisão aberta, redes sociais e espírito competitivo prestam boa parte do desserviço que afasta o skate de seu propósito (sob o pretexto de explicá-lo pras massas), é acalentador ver o verdadeiro espírito da coisa sendo projetado numa das esquinas mais frequentadas do país. Não se explica skate; mas se você conseguir passar parte da paixão que os praticantes sentem a cada ollie, você está se aproximando de emoções humanas comuns a qualquer ser, seja ele skatista ou não. É levar pra todo mundo a alegria que uma minoria, dotada de uma habilidade rara, pode sentir. Seja da calçada ou das poltronas de uma das salas de cinema mais importantes da sétima arte, o que se viu em Daedalus só deu mais vontade de sair embalando pelas ruas.
O Community Center, que funcionou na Matilha Cultural, foi um local especial, onde a tal “troca de ideias” encontrou um ambiente pra lá de propício pra acontecer, seja no palco, onde entrevistas e o “Speaker Series” trouxeram os mais diferentes temas, seja na conversa informal ao lado da mesa de pebolim. Todo mundo colocado num mesmo patamar. Oportunidade de conhecer de perto um grande skatista, cearense de Maranguape, mas desconhecido por aqui, conversar com os amigos do time local e ver rodas de caras que fizeram capas históricas conversando com skatistas quase anônimos é tudo que o skate precisa. É a forma com que a cultura se construiu. Papo real, sem post nem filtro. O que se viu foram apenas novos parceiros de sessões que estiveram em São Paulo com o mesmo propósito daqueles que se deslocaram pra vê-los: queriam contato, interação, saber o que as pessoas daqui tinham pra contar. Não vieram pra discursar, vieram ouvir, ensinar e aprender.
Outro aspecto que vai de encontro com a realidade do skate foi a gratuidade dos eventos, dando arte, música e skate a troco de sorrisos e bons momentos. As idas até a Victor Civita, num dia ensolarado e numa noite das mais frias, provam que o interesse pelo skate e sua cultura torna outras questões insignificante. Bodes e Elefantes, Vermes do Limbo, Garage Fuzz, Curumin…nos microfones, só gente boa.
É ingênuo ignorar que grandes eventos, em que se investe muito dinheiro, não tenham um objetivo comercial. É investimento x retorno. Então, sabiamente integrados ao programa estava lançamento de um modelo de tênis, além de duas coleções bastante esperadas (Sigilo e Numbers) e mais ainda bem recebidas.
Sábado passado, 04 de agosto, o último dia do evento é, óbvio, o que está mais fresco na memória. Mudança de local de última hora? Sim, do jeito que o skate é! Se a gente combina uma sessão, mas na noite anterior fica claro que o risco de chover é grande, o que normalmente fazemos? Cancelar, jamais. A gente procura outro pico, de preferência coberto. E foi assim que aconteceu: todo mundo pra dentro de um garantido estacionamento coberto, e a sessão rolou solta e protegida!
E pra fechar, o vão livre do MASP, num sábado a noite, é um dos lugares mais legais pra se estar. E com música boa, amigos e skate na pauta, nada melhor. Uma confraternização nota 10, digna de encerrar dez dias em que o skate foi tratado como merece.