O prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) já é conhecido por seus projetos digamos no mínimo polêmicos.
O mais novo deles veio à luz há cerca de dez dias, quando a prefeitura informou que vai realizar a troca das tradicionais pedras portuguesas das ruas e calçadões do centro da cidade por concreto, em ação que visaria diminuir os custos com a manutenção dos mosaicos e que se assemelha à troca que aconteceu anos atrás na Avenida Paulista.
O Departamento do Patrimônio Histórico (DPH), da Prefeitura, vai apresentar o projeto para os conselhos municipal e estadual do patrimônio histórico que decidirão se a Prefeitura poderá ou não trocar as pedras portuguesas pelo concreto que seria bancada por meio de parcerias com a iniciativa privada e que custaria perto dos R$ 30 Milhões.
Caso seja aprovado, o projeto engloba uma espécie de quadrilátero com 150 mil metros quadrados que passa pela Praça da República, Largo São Bento, Pateo do Collegio, Praça da Sé e Vale do Anhangabaú. Isso pode significar que o fim das pedras portuguesas em picos clássicos do skate paulistano pode estar perto.
Pode ser que a mudança agrade a alguns muitos, os que talvez não se adaptam muito bem aos caminhos de rato do Vale e da Sé, ou pra aqueles que não sabem muito bem qual a sensação de encostar num domingo no Pateo e ficar ali solando com os amigos debaixo de sol. Realmente muita gente entorta o nariz para as pedras portuguesas, que estão presentes em todo o país e não somente em São Paulo.
Mas o fato é que a Pedra Portuguesa é parte indissociável do DNA do street skate brasileiro. Talvez seja parte do segredo do skate nacional, esse skate que deixa os gringos boquiabertos com tanto talento no meio de tão pouco incentivo e estrutura. E não são todos que conhecem as artimanhas para frequentar locais tão simbólicos dos quais ela faz parte.
E não é com a simetria dos mosaicos, que sempre passam despercebidos no momento da manobra, que me preocupo, mas sim com uma restauração que não cabe no momento, com tantas outras coisas que deveriam ser prioridade como a Saúde Pública, a Cracolândia; os constantes deslizamentos de terra quando chove na cidade; os assaltos; homicídios e latrocínios; a corrupção e desvio de dinheiro público; das vias esburacadas e esquecidas da “cidade da garoa” -que só sabem multar e cobram seu Ipva; dos incêndios nas favelas…
Que Doria procure a iniciativa privada para manter a tradição do local. Mesmo que a manutenção das pedras portuguesas seja mais cara, o ônus não estaria na conta da prefeitura e assim parte da história de nossa cidade se manteria preservada.
Parafraseando nosso editor (Douglas Prieto), quando ainda era um colaborador e escreveu em seu blog sobre a troca da pedra portuguesa da Avenida Paulista em 2007: One man’s fun is another hell (a diversão de uns é o inferno de outros).
Abaixo, assista ao episódio da série Cem Rumo pelo centro de SP.