HÁ VAGAS PARA SKATISTAS

Há mais ou menos um mês, uma importante notícia impactou o mundo do skate: o reconhecimento de nosso esporte como profissão regulamentada. Ou, pelo menos, deveria impactar.

Enquanto boa parte da nata do skatebô nacional se revezava entre queimar o filme no Novo Vale e a mini da RDP, dando exemplo de como não se comportar na fase mais crítica da pandemia do novo corona vírus, o skate dava um passo histórico rumo a um futuro mais seguro para seus praticantes, possibilitando, agora, que seja amparado por leis, direitos e obrigações legais que lhes assegurem pisar em um terreno mais firme daqui em diante e, principalmente, lá na frente, quando os gambitos já não derem mais conta do recado.

Agora, não sei por que, na semana do tão sonhado acontecimento, a parte mais interessada na questão, a que será diretamente beneficiada, os profissionais de hoje e os de amanhã, não se manifestou acerca do tema, seja positiva ou negativamente. Nem naquelas publicações que evaporam 24 horas depois. Nada. Eu juro: com exceção de velhos bem chatos, como eu, e de um ou outro mais antenado ou que ganha a vida escrevendo em blogs e sites de notícias, num total que dá pra contar com os dedos de uma mão, ninguém mais deu atenção à notícia.

Tá certo que é difícil pra caralho competir com parte nova do Brandon Westgate, com as agora renovadas bordas do novo vale ou com aquela manteiguinha que ficou a Saúde revitalizada, mas pô, velho, esse é o sonho de 101% das coroas de todos os profissionais que já caminharam na superfície terrestre, dos que seguem caminhando e dos que virão um dia a caminhar (se bem que até as coroas desses moleques já serão da geração z ou mais, então desencana), então, demonstrar algum interesse em como se darão as regras de hoje em diante -e se enquadrar a elas o mais rapidamente possível- é o mínimo que um caba que se diz tão ligado à importância da figura materna (eu aposto que você que tá lendo essa porra deve ter até gravada indelevelmente na pele uma homenagem a ela) deveria fazer.

Tenho altos patrocínios, model disso, model daquilo, e agora? Quem registra minha carteira? Um? Todos? Qual a remuneração mínima com que quem estiver disposto a lucrar com nosso mercado e com nossa imagem deve arcar? Horário, férias, horas extras? Pô, rolou aquele facão e eu fui o primeiro a ser desligado “por não ter suprido as expectativas da empresa”. Seguro-desemprego? Andei profissionalmente a vida toda, igual a um condenado, e quando parei saí com uma mão na frente e outra atrás. Há como inserir todo esse tempo em minha carteira? Seremos contratados via CLT, seremos autônomos? São questões que soam um pouco distantes, eu diria até que cômicas, e assim soam justamente por nunca terem feito parte de nossa realidade, mas que nem por isso devem deixar de serem feitas. E rápido.

Por isso, é de extrema urgência que a comunidade do skate dispense a devida atenção a tão importante fato antes que venham os oportunistas, e eles vêm, eles sempre vêm, e aí quem poderia pagar com pix vai seguir pagando com kits. Fica a dica: o mesmo dedinho que dá o like por horas a fio durante o dia também clica em sites para se informar, manda email a associações, federações, confederações, ministério do trabalho, sei lá, dane-se, o importante é você bem, lá na frente, fazendo o que gosta, ganhando como deveria e com a mente focada no carrinho em vez de ter que ser obrigado a largar tudo pelo que sempre sonhou e viveu a fim de proporcionar uma vida melhor a você e aos seus. Palavras de quem sabe o que está falando.