2017 marca o Go Skateboarding Day mais falado de todos os tempos. Infelizmente, pouca coisa boa dita, ou feita. Fica claro que a crise de representatividade que marca o momento do país chegou ao skate, uma vez que a voz que fala pelo skate nesse caso é alguém que o próprio meio desconhece. Não diferente do que se vê no sindicalismo, na política, na igreja, no estado. Os novos tempos fizeram com que cada um se tornasse uma ilha, com regras, opiniões e leis próprias. Não existem grandes e longas batalhas, mas sim incontáveis, cansativos e pouco recompensadores pequenos conflitos diários.
Toda vez que o skate enfrenta um “não skatista” (vizinho, segurança, motorista de Ecosport, policial etc.) eu sempre levo em conta que o “outro lado” não conheceu o skate, não viveu suas alegrias, fez as suas amizades e compartilhou dos seus valores, e olho com certa pena para ele. O skate, e a cultura que o cerca, nos deu uma outra forma de ver a vida, e se passarmos a agir da mesma forma que as pessoas que não conviveram nesse ambiente, então o futuro será ainda mais sombrio. Claro que ninguém atropelado consegue ser grato por isso.
Aí vem o discurso de que “skate é transgressor, é contracultura, é a rua porra.” Sim, mas saber a hora de transgredir é demonstrar inteligência. Invadir a bateria pra aquecer na hora em que não foi chamado não é trangressão. Pichar ou estragar o skatepark público construído na porta da sua casa não é protestar. Protesto, transgressão, rebeldia funcionam pra conquistar novos espaços, levar o skate aonde ele nunca foi. Sei (e como sei) que é estranho e incomum a gente estar do lado certo, mas isso acontece às vezes. Quando é jogo ganho, não faz sentido transgredir. Se a maior cidade do ocidente fecha as ruas pro skate passar, é o tal do “sistema aos nosso pés”. Era a hora do motorista demente ser ele, e só ele, o culpado, o errado e o punido. O skate estava com tudo a seu favor, e demos ao selvagem do volante chance e argumentos (ainda que completamente estúpidos) pra tentar justificar o boliche humano daquela manhã na Rua Augusta. Uma quase carnificina.
Em junho de 2017, é quase irônico exigir que se faça justiça com o atropelador, mas é nossa obrigação. Exigir, não fazer. E nunca perder de vista que, quando você está com o skate na rua, você tem a responsabilidade de zelar pela imagem dele.
Encontro vocês no MASP em 2018.
(escolhi, pra ilustrar, algumas fotos feitas por Roger Tilskater, pra lembrar e reforçar que skate é algo belo.)