Estamos a poucas horas da estreia do skate nos jogos olímpicos de Tóquio assim como estamos a poucos dias de presenciar um salto -quantitativo e qualitativo- do Brasil no quadro de medalhas que poderá alçar o país ao seleto grupo dos dez maiores medalhistas de ouro da competição. E tudo isso graças aos outrora (e ainda hoje, na verdade) vândalos, desocupados, aos skatistas maconheiros e seus primos parafinados lá do litoral.
A nós isso não é surpresa alguma. Não é porque a Globo disse que nós ficamos sabendo que é bem capaz de termos o pódio do street feminino todo composto por brasileiras ou porque a Globo não disse que deixamos de saber que o Kelvin vai tomar aquela famosa bica (espero estar errado). Sabemos que o Pedro vai andar igual a um monstro e trazer a medalha dourada do park pra Floripa. Nós os conhecemos, nós vimos a Letícia desde a época da pista da Plasma, lá na zona leste de São Paulo, aprendendo as manobras com o Yellow, o Diego e o “Vinicinho”. Nós vimos o quanto o Kelvin apanhou pra ser o que é hoje, e o quanto ele bateu naquelas rampas velhas do interior como uma verdadeira máquina de manobras. Nós vimos todos eles, desde crianças.
Mas agora eu pergunto: você, que sabe de tudo isso, que está em cima do carrinho há décadas mas, mesmo assim, ainda não conseguiu uma maneira simples de explicar a uma pessoa leiga que você não dá 900, uma vez que você anda de street, que você é profissional mas nunca sequer correu um campeonato ou que você não conhece o Bob, você está preparado para, a partir de segunda-feira, lá no seu trabalho, ou hoje à noite mesmo, durante aquele churrasco familiar, debater de igual pra igual com aquele teu parente distante, que agora virou um exímio conhecedor do esporte (que você nem chama de esporte) que você pratica, que a “fadinha do skate” deveria aprimorar o seu switch, ou que ele prefere o Nyjah ao Felipe Gustavo porque acha que o primeiro é mais estiloso?
Já imaginou, o Giovanni quase voltando alguma daquelas variações de caballerial que ele manda, e o fulano dizendo que “aquele vermelho é ruim demais e que ele não deveria nem estar ali”? Eu já, e confesso que, de antemão, já estou de saco cheio. Não estou a fim de perder tempo tentando explicar que nosso movimento não cresceu na base da competitividade e muito menos de tentar incutir em sua mente a ideia da cultura de vídeos; de perguntar se ele já assistiu ao “Encore”, da Primitive. Não, não. Sem paciência.
Mas fica a sugestão aos skatistas/vendedores de cursos e tik-tokers de plantão: já lancem nos stories aquela pesquisa a fim de saber a aceitação de sua clientela e, em seguida, um curso do tipo “Como explicar o que é o skate em uma frase ao seu amigo leigo”. Esse eu garanto que compro.