Para quem acompanha o noticiário mundial, já sabe que os Estados Unidos estão em um momento de convulsão causada pelas mortes e abusos causados pela polícia contra a população afro-americana do país.

O momento pede manifestações contra esse preconceito racial por parte dos departamentos de polícia. E desde a morte de George Floyd, em 25 de maio em Minneapolis, por um policial branco, que se ajoelhou sobre o pescoço de Floyd, enquanto ele estava algemado e de bruços no chão, isso vem acontecendo.

Chauvin, o policial de 44 anos, foi preso e é acusado de homicídio. A morte de Floyd provocou uma onda de protestos em todo o país. Desde então, e até antes, o movimento ativista internacional Black Lives Matter vem realizando protestos em vários estados americanos.

E por favor, se você não concorda com o BLM, por favor, nunca diga a seguinte frase: “Todas as vidas importam”. O motivo:

“Quando você diz que ‘todas as vidas importam’ você nega a existência do racismo”

 

O racismo existe tanto nos EUA como por aqui. Ontem (26) foi um dia histórico para a NBA, WNBA e outras ligas esportivas que pararam em protesto contra mais um caso de racismo da polícia norte-americana. Seis jogadores se recusaram a entrar em quadra em partidas pelos playoffs da liga de basquete norte-americana. Os jogos serão reagendados.

O boicote que paralisou as ligas esportivas é por conta de mais um afro-americano atacado pela polícia do país. Jacob Blake, que no último domingo (23) foi baleado pela polícia de Kenosha, no estado de Wisconsin. Jacob, que é um home preto, levou sete tiros pelas costas quando tentava apartar uma briga entre duas mulheres. No momento do acontecimento, Blake estava desarmado e perto dos filhos.

Jacob está internado e perdeu o movimento das pernas, segundo familiares. O fato gerou uma nova onda de protestos contra o racismo nos EUA.

E em um desses protestos ocorrido ontem (26), na mesma Kenosha, aconteceu o pior!

Um grupo de jovens e adolescentes brancos, armados com revolveres e fuzis, se posicionaram contra os manifestantes sob o pretexto de proteger as propriedades privadas do local. Os vídeos mostram desentendimentos e discussões, e os jovens armados no meio da rua, muito distantes das propriedades. Os enfrentamentos aconteceram, e em algum momento o skatista Anthony Huber se atracou com um desses atiradores, que disparou seu fuzil contra Huber, que morreu no local, além de mais um manifestante.

Eu não estou aqui para ser advogado de ninguém, costumo dizer isso em meus textos aqui no blog. Sabemos que em qualquer parte do mundo, muitas vezes, protestos saem do controle. Mas normalmente o vandalismo é realizado por grupos pequenos que se infiltram entre os manifestantes, caso dos black blocks que ficaram conhecidos após os protestos de junho de 2013 no Brasil, mais especificamente em São Paulo.

O que podemos tirar de lição disso tudo é que se alguém está armado na rua, com ou sem seu porte ou posse, não está para boa coisa. Alguém armado na rua está pronto para puxar um gatilho, que certamente vai tirar a vida de alguém. Mas sob qual pretexto?

Após postarmos a foto em nossas redes sociais, críticas choveram contra o skatista morto. Muitas pessoas aqui no Brasil (veja bem, no país onde o governo Bolsonaro quer liberar o porte de armas ao dito cidadão de bem) justificaram a morte de Huber por ele estar na rua “pronto para invadir propriedades” e “violentar a sua mulher/filha/mãe”.

Onde fomos parar como humanidade? Como alguém pode defender a morte de alguém que está na rua para protestar e prestar apoio ao povo preto? Certamente a humanidade de Anthony Huber está documentada e ficará para a história. É um legado…

Confesso que me dói demais ver que entre nós skatistas existem pessoas que defendem tortura, ditadura, violência, fascismo…  Isso é bizarro! O skate foi criado no meio de movimentos sociais, forjado na contra-cultura, nas ruas, no preconceito vivenciado por nós apenas por andarmos de skate. Mas o skate está nas Olimpíadas hoje (ano que vem) e parece que muitos que colocam o pé em cima da tábua para pegar um impulso sobre as 4 rodas se esqueceram de todo o caminho que o Skate atravessou até aqui.

Para mim, Anthony Huber é sim um herói e a história mostrará seu valor.

Alguns anos atrás outro skatista foi invadido pelo espírito altruísta que deveria fazer parte de todos em nossa comunidade. Talvez você não se recorde do nome, mas Ignacio Echeverria Miralles de Imperial de 39 anos, natural de Madrid e que trabalhava num banco em Londres desde 2016.

Ignacio, ao ver uma mulher sendo atacada por um terrorista do Estado Islâmico, munido de uma faca, não pensou duas vezes e partiu para cima do criminoso desferindo golpes com seu skate e salvando a mulher. No dia 7 de junho de 2017, Ignacio virou um mártir, um herói (relembre aqui), assim como aconteceu com o então desconhecido Anthony Huber.

Huber, boa viagem, obrigado pelos ensinamentos… e mande um abraço bem apertado ao Eche por nós.