Todo skatista poderia dizer o que Tony Hawk significa na sua vida. É impossível que ele não tenha, de alguma maneira, influenciado qualquer skatista que seja.

Minha história envolve a azarada ida ao Sea Club Overall Skate Show (1988) no dia em que ele, por problema de saúde, não andou. Como todo o respeito do mundo (e esse respeito só aumentou ao longo do tempo), Lance Mountain, na época, não serviu de prêmio de consolação. Foi uma bela lição de como lidar com a frustração.

Nas épicas disputas e discussões Hawk X Hosoi, falava-se que o Hawk não tinha estilo, e que o Hosoi é que era o cara que andava bonito. Esse é um tema difícil, e esse papo o tornava ainda mais complexo. Ainda que o Christian seja indiscutivelmente um dos melhores de todos os tempos, eu não tinha dúvidas que preferia ver o Hawk: o cara dava indy air segurando por trás da perna, mais difícil e mais bonito: se isso não era estilo, o que era então? Estilo é a roupa que se veste, usar lycra, rodar a camiseta pra avisar que vai dar um McTwist? O Hawk não tinha tempo pra avisar o que ia fazer. Quando você via, já estava feito. Se ele me ajudou a ficar ainda mais confuso com essa coisa de estilo, ajudou também a me tornar um completo ignorante sobre julgamento de campeonatos: como alguém podia achar uma volta de outro skatista melhor que a dele?

Quando ele fechou o Ban This (1989) com um backside ollie 540, (ou quase Mc Twist sem pegar o skate), a definição do que era possível fazer com o skate mudou. E, ao longo do tempo, ele mudou isso tantas vezes que se torna quase impossível listá-las. Alterou também, a definição do que é possível fazer como skatista, e se tornou pessoa pública, empresário, celebridade. Melhor ainda que o fez com muita sabedoria. Ganhou dinheiro, mas nunca “queimou o filme”. Nem o próprio, nem do skate.

 

 

Foram inúmeros feitos, uma lista infinita: a franquia de vídeo games, o 900, a Birdhouse. Se você tem o “The End” como um dos melhores vídeos de todos os tempos, estamos juntos. Revelou skatistas, dirigiu a van pra fazer economia na tour, casou-se algumas vezes, povoou o planeta com outros Hawks skatistas (Riley!), ajudou a construir centenas de skateparks, lançou livro. Veio ao Brasil em 2011 e voltou recentemente.

É muito pouco dizer que o Battle Commander dele (abaixo) seja inspirador. Na verdade faltam palavras que descrevam o que Hawk é, do mesmo jeito que faltavam termos pra nomear as manobras que criava quase que diariamente naquele final da década de 80. O cara que certa vez preencheu num formulário o campo “occupation” com a palavra “skateboarder” é exatamente isso. Um skatista.

O skatista.