Com a 218, enfim, na gráfica, antecipo aqui meu editorial:
Esta edição da CemporcentoSKATE que, enfim, chega nas suas mãos, tem o peso de ter feito parte de um momento histórico da humanidade. Na 217, lançada no longínquo abril de 2020, o coronavírus já era uma realidade, e o período que a sucedeu tornou-se o mais sombrio e incerto da nossa geração.
Os mortos continuam sendo chorados, lamentados, engrossam uma estatística assustadora. A pandemia não acabou ainda. Mas o cenário de agora (escrevo em 07 de outubro) é muito diferente daquilo que vivíamos em maio, junho. Pânico absoluto, incerteza em todos os campos, além de uma tristeza coletiva paralisante. No meio de tantas urgências, pra que imprimir uma revista de skate? E como? Com skatistas andando de skate dentro de casa? De máscara? Smith de back no sofá? Pode ter sido um alívio momentâneo, mas sabemos que não é disso que se trata. Skate é movimento, é ser livre, deslocamento, a mais coletiva das atividades individuais. Era hora de esperar, repensar, tentar usar o tempo a nosso favor.
Se a vacina ainda não veio, hoje a ciência se mostra mais preparada pra lidar com o vírus, mais vidas são salvas, e uma parcela cada vez maior da população está treinada pra realizar ações que desaceleram a escalada do contágio. O estrago econômico está feito, com milhares de negócios fechados e números alarmantes de desemprego global. Mas depois de um longo período de inatividade, portas reabriram timidamente, algumas sobreviventes, outras inaugurando, e devagar o movimento de compra e venda volta a acontecer. O inimigo segue firme e forte, mas temos mais recursos e conhecimento para lidar com ele. É a vida impondo sua inegável necessidade de seguir acontecendo. Estando vivo, não existe outra alternativa.
Ainda que a tão esperada boa consciência coletiva, que parecia ser uma das transformações que a doença exigiria, hoje pareça utópica, fica cada vez mais evidente quem são as pessoas que fazem a Terra girar e as que pesam contra esse movimento. Apesar disso, não se trata de polarizar de vez, mas sim caminhar na eterna tentativa de entendimento. O tamanho do problema nos mostrou que a existência só pode acontecer, e ser saudável, se o pensamento coletivo for, no mínimo, tão importante quanto as vontades individuais. Não sou eu. Somos nós. Aquilo que faço influencia diretamente no outro, como uma cuspida no rosto. Se eu não quero que isso aconteça comigo, quem precisa usar a máscara sou eu. E ajudar a fazer com que esse pensamento chegue a cada vez mais pessoas. Até naquelas que merecem tomar na cara.
Com tudo isso, conseguimos chegar até aqui, e colocar mais uma edição, que fecha o ciclo em que comemoramos nossos 25 anos. Ela surgiu pensada como uma edição de fim do mundo, mudou de cara e de conteúdo com o passar do tempo e o resultado final quem vai avaliar é você, que veio conosco. O skate enfrenta seu maior desafio, diferente de qualquer um que se poderia imaginar. Ele continua nos trazendo motivação e alento, tanto na bonança quanto na tempestade. Andemos, adiante.