Se havia alguém que ainda tinha dúvida sobre o tamanho de Mark Suciu na história do skate, acho que o ano de 2021 serviu pra varrer qualquer resquício de “será mesmo” do mapa. O ritmo insano da sua produção de vídeos durante o ano passado, aliado com a qualidade do material que ele captou, garantiu o merecido título de SOTY.
Indo além do título, vimos a história sendo escrita diante dos nossos olhos. Temos a sábia cautela de não mexer tão impulsivamente na famosa lista dos melhores de todos os tempos, mas não podemos confundir cautela com apego nostálgico. Isso, sim, é um erro. Suciu já cravou – e não é de hoje! – o seu lugar nessa lista sagrada… bom, pelo menos na minha!
De perfil discreto, o skatista norte-americano usa a mesma combinação de roupa desde, sei lá, pelo menos o “Origin”, da Habitat, em 2010… e possivelmente antes disso. Nada contra esbanjar estilo, o ponto não é esse: o que levanto para observação é essa característica pessoal do cara, que permite concluir que ele é lembrado apenas pelo seu skate. Zero interferência visual. Acho isso muito legal, pois reforça aquele mantra da personalidade que se revela pelo jeito de andar (de skate). E prova, ao mesmo tempo, que a discrição não impede que esse processo ocorra. Talvez tenha ficado confuso, mas sei que você entendeu, rs.

foto Klaus Bohms
Além do arsenal absurdo (e aparentemente infinito) de manobras, tem outra coisa que sempre me chamou a atenção na trajetória de Mark Suciu: escolhas muito espertas para as trilhas dos seus vídeos. Embora seja possível supor que essa ou aquela faixa tenham sido indicadas/escolhidas pelo editor do vídeo, o meu palpite sempre balançou para o lado do skatista: a fisionomia geral das canções permitia tal suposição, parecia indicar uma preferência pessoal. E Klaus Bohms, que conhece o elemento, confirmou: “Ele tem bastante envolvimento na escolha das músicas, na medida do possível. Principalmente Beirut, lembro de ouvirmos juntos em tour e falarmos sobre isso”.
Como homenagem, o que proponho aqui é um passeio por diversas músicas que já embalaram partes de vídeo do Suciu ao longo dos anos. Uma espécie de retrospectiva sonora. Não tá tudo aí, eu sei, e nem tive a pretensão de compilar tudo, mas diria que o essencial tá na lista. Acho que vai render um bom passeio, tanto para aqueles que derem o play em casa, pra fazer faxina ou sei lá que porra, quanto para aqueles que decidirem ouvir na sessão (algo que recomendo, pois tem excelentes gatilhos reservados).

foto Klaus Bohms
Lembro, com especial carinho, de um momento inspirado no “Search The Horizon” (2013), da Habitat, que demonstrou forte conexão com o que estava rolando ali na época, na medida em que as 3 músicas da parte do Suciu saíram de discos lançados no mesmo período: “Human”, do DIIV, do debut “Oshin” (2012); “Clash The Truth”, faixa-título do álbum do Beach Fossils, de fevereiro de 2013; e “Sacred Sands”, da banda Allah-Las, extraída do primeiro disco, de 2012. Tudo fresco, tudo novo, tudo acontecendo naquele momento. Muito em sintonia com o skate do próprio Suciu.
Claro que tem mais, tem muito mais: Beirut (três vezes, batendo com o depoimento do Klaus), Beach House, o finado Elliott Smith, Siouxsie, Air… e que beleza esse Alex G que ele adicionou recentemente, fiquei com essa música na cabeça por dias.
Pelo áudio e pelo vídeo – afinal, é audiovisual, não é? –, temos bons motivos para revisitar a trajetória de Mark Suciu. Espero que vocês se divirtam com essa lista de 21 canções.
Feliz ano novo, my people.

Selfie de Klaus Bohms com Mark Suciu e Nestor Judkins, 2016
(todas as fotos são do arquivo pessoal do Klaus Bohms, a quem agradeço pela contribuição nesse post)