SKATE, JAZZ E A ARTE DO IMPROVISO

Cresci em uma casa em que se ouvia muita música e meu pai era aficionado por jazz e tinha uma coleção enorme de discos de nomes como John Coltrane, Miles Davis, Charles Mingus, Chet Baker, Billie Holiday e Ella Fitzgerald entre outros.

Porém como todo adolescente que se preze, eu achava que jazz era música de velho e tudo que eu queria era ouvir bandas de punk como Dead Kennedys, Toy Dolls, Devo, Ramones, Garotos Podres e Cólera.

Até que em 1991 saiu o Video Days da Blind e assim que entrou a parte do Mark Gonzales explorando de forma livre as ruas de Nova York, pulando escadas e descendo corrimões ao som de John Coltrane foi quando me deu um estalo e eu percebi o quanto que o jazz e o skate tinham nascido um para o outro.

Para começar a falar das similaridades, assim como o skate, o jazz nasceu no underground, e sempre foi um gênero musical subversivo e perseguido, por sua essência livre. Essa liberdade encontrada no jazz, das jam sessions e do improviso é a mesma presente no skate, quando você sai sem rumo pegando impulso pela rua e interagindo com os obstáculos que aparecem na sua frente.

Outro ponto importante é que em ambos não basta saber a técnica e dominar o seu “instrumento”, é preciso ter estilo. Ver o Chet Baker tocando seu trompete com toda a sua elegância e energia é como ver uma linha impecável do Dylan Rieder, por exemplo.

Tanto o skate quanto o jazz partem de movimentos básicos – no skate manobras como o ollie, o flip ou o shove-it e na música as notas, acordes e escalas. O que faz toda a diferença é como você executa cada um desses movimentos e explora todas as suas possíveis combinações e possibilidades infinitas.

Tem também a cultura da sessão com os amigos no skate e as jam sessions de jazz. Até dá para você andar de skate ou fazer um som sozinho mas é muito mais divertido quando você está com a sua banca, não é mesmo?

Para fechar, selecionei alguns vídeos que souberam usar de forma incrível essa combinação perfeita entre o skate e o jazz. Se alguém lembrar de algum outro, posta aí o link nos comentários.

Mark Gonzales no Blind Video Days

Eastern Exposure 3 New York City

Satva Leung no Welcome to Hell da Toy Machine

A Love Supreme da Supreme

Ishod Pushing Philly da Real Skateboards

Old Woops New Groove da Magenta Skateboards

Aidan Mackey no \m/ de Cooper Winterson

Fernando Denti no Doppelganger

L-Train da Converse Cons Brasil

Clipe City of Mirrors do BADBADNOTGOOD

(arte por Luiz “Arroiz”Moschioni)