Na virada do ano (2017 para 2018) fiz uma curta viagem de 6 dias para o Chile, acompanhado da minha parceira (Amanda) e com o intuito de conhecer o país e descansar alguns dias no recesso de final de ano aqui da casa.
Chegando ao Chile, pelo ar, o primeiro contato com a Cordilheira dos Andes é magnífica. Difícil ficar indiferente ao se deparar com a “Espinha Dorsal do Planeta”. Um complexo imenso e extenso de montanhas exuberante. Depois das fotos pela janela e do impacto causado pela Cordilheira, chegamos ao aeroporto da capital Santiago para pegar o metrô rumo à rodoviária Pajaritos, para pegarmos um ônibus sentido litoral, para a região que abriga as cidades de Viña Del Mar e Valparaíso. A passagem por lá, mesmo que por menos de 3 dias, foi o suficiente para conhecer um pouco da cultura e costumes.
Em Viña Del Mar, por exemplo, é praiana e toda plana, com avenidas principais que cruzam a cidade (Oriente y Poniente). Como era Reveillon, a praia estava tomada pelos chilenos, principalmente daqueles vindos da capital. Levei o skate comigo pra viagem, entretanto não deu pra andar em Viña, só deu pra fazer uma foto na divisa entre duas praias (um flip que postei no insta [meio semmoment] hahaha). Mas o skate ia comigo pra cima e pra baixo.
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Ainda em Viña, deu pra uma molecada usando a calçada e as bordas do Cassino local e também algumas outras bordas do centro e de Las Salinas. Numa das andanças, no dia 30/12, passei em frente a uma boardshop chamada Sanma Skateshop.
Lá, conversei com Marco Bigas, que assim que falei que era brasileiro e trampava numa revista, logo me chamou pra frente da loja: “Venga a ver“. Chegando lá, no banner de comunicação da fachada da loja, entre diversos quadrados estampados por skatistas do mundo todo que o compõe e que visitaram a loja, estava o brasileiro Adelmo Jr, a quem o Marco indicou com o dedo todo orgulhoso. Trocamos uma ideia rápida e quando chegaram alguns potenciais clientes, me despedi e disse que tentaria passar lá no dia seguinte para deixar uma edição da CemporcentoSKATE, o que infelizmente não consegui.
No dia 31, conhecemos Valparaiso. A cidade tem muitos cerros (morros) e é um museu de graffiti a céu aberto (ainda bem que o Dória não é prefeito de lá!). Realmente, Valpo (como os locais chamam carinhosamente a cidade portuária) é muito legal! Para quem gosta de cultura, é uma boa pedida. Bom, continuando, quando estavámos conhecendo os tais cerros, eu e a Amanda tentamos encontrar o spot da capa da edição 205, com Wilton Souza aplicando um switch shove-it por cima do cano, em imagem registrada para a posteridade com maestria por Allan “Ban” Carvalho.
Resumindo, andamos, andamos e andamos, mas de nenhuma forma conseguimos encontrar o cano pelo qual Wilton passou por cima, literalmente (veja no raw files da Vibe).
Perguntamos para os carabineros que faziam a segurança durante o feriado, paramos pessoas nas ruas mostrando a capa, mas ninguém conseguia nos ajudar. Até que chamei por um senhor de uns 50 e poucos anos que estava saindo de sua casa. Mostrei a ele a foto. Ele e sua esposa começaram a divagar sobre onde poderia ser o local. O homem tinha uma vaga ideia, e foi aí que ele nos mostrou o ângulo da foto e apontou para o outro lado do cerro. Ele também nos disse que para chegar lá, precisavámos tomar um ônibus. Já estavámos andando sob o sol de rachar há quase duas horas. Resumo, pedi pra Amanda fazer uma foto minha segurando a edição em um ponto qualquer do cerro. Listo! Você pode estar pensando: ‘mas por qual motivo ele não mandou uma mensagem pro Ban?’. Pois é, eu deveria ter feito isso antes de sair da habitacion para o rolê, pois na rua não dava pra pegar uns wi-fi. Enfim, serve de aprendizado pras próximas.
Descendo o cerro, depois de exaustos e de tanto procurar pelo spot do Wilton, fomos tentar comer algo. Perguntando para alguns locais que encontramos perto do Ascensor (Elevador) Reina Victoria, eles nos indicaram um lugar na rua de trás. Caminhamos até lá e, para nossa grata surpresa, encontramos um canto muito especial.
O restaurante aconchegante ao que me refiro é o El Canário. Com suas mesas de madeira e a refeição servida nas tigelas de barro, ele nos conquistou. As paredes do local são todas cobertas com lambe-lambes. Muitos deles de cunho político e social. Momentos históricos dos trabalhadores chilenos, a luta contra a ditadura de Pinochet, manifestações, revoluções, congressos… tudo estampado nas paredes.
Além desse ambiente surpreendente, fomos atendidos de maneira muito hospitaleira pelo Kolli Sanhueza e sua esposa Marta (portuguesa). Enfim, um local fascinante, com uma comida simples e fantástica, que merece uma visita de quem estiver por Valpo.
Depois de comer, voltamos correndo pra Viña (Bina como eles pronunciam) para preparar a nossa ceia. Salada, ceviche (Reineta), aspargos, tomate e cebola na chapa e, claro, vinho. Na sequência, fomos ao Cassino para a contagem regressiva do ano novo. Praia lotada, aquela coisa que conhecemos: todos com suas bebidas e celulares à postos esperando a queima de fogos. Só não sei que mania os chilenos tem de soltar os balões (tipo Xinequina? Aquele tipo japonês) no ano novo. Quase ví vários acidentes, mas… paciência.

Stoppers em vários spots skatáveis em Santiago
Passada a virada, nada de descanso. No primeiro dia de 2018, de tarde, já pegamos o ônibus rumo à Santiago. A expectativa para conhecer a capital Chilena era bem grande. Um tempo antes de viajar já tínhamos feito o roteiro que incluía visitas à parques, restaurantes, museus, Concha Y Toro e essas coisas de turista.
A cidade é bem legal. É uma metrópole como São Paulo, com metrô que leva à todas as áreas, comércio, restaurantes e tudo mais aberto até altas horas. Vida noturna legal, com muita cultura. Notei que o povo chileno é educado, principalmente no trânsito, mas eles são um pouco fechados em geral com turistas.
Nesses rolês perdidos turistando em Santiago, acabamos passando por várias praças. Uma coisa tem que se ressaltar sobre o Chile: Eles tem muitas praças e lugares ao ar livre para leitura, levar as crianças ou um simples descanso! Segundo a minha irmã, que vive na capital chilena há dois anos, “o povo chileno ainda reclama muito que tem poucas praças“. Enfim, de toda forma, o lado negativo pra mim era de que quase todas essas praças não contavam com calçamento, asfalto ou concreto.
A maior parte dessas praças tem uma superfície coberta por pequenas pedrinhas misturadas a areia e terra, fatores que impossibilitam o rolê. Mas são muitas praças mesmo! Olhando de longe, você avista os bancos e pensa que vai dar pra andar, mas quando chega perto, nota que é impossível.
A cidade é recheada de bordas de mármore e de pedra, além de corrimãos, mas muitos deles tem skate stoppers.
Enfim, acabei elegendo um dia para andar de skate e continuei o rolê turista. Conheci o Museo de la Memoria y los Derechos Humanos, um local que nos conclama a relembrar sempre as injustiças e os abusos da ditadura no Chile. O museu ainda se curva à outros crimes e genocídios ocorridos em diversos países do planeta. Foi, sem dúvidas, um dos lugares mais legais que conheci.
Tudo tranquilo, viagem fluindo, até que, no dia 02, recebi dos amigos na internet a triste notícias do trágico assassinato do camarada da ZN, o Bigode (Willian Matheus). Fiquei entristecido. Mandei uma mensagem pro Argentino (Lucas Cicolo) que me contou as paradas e como tudo estava. De alguma forma fiquei mais tranquilo. O skate brasileiro perdia ali mais um dos bons.
Vida que segue, pra além da consternação, em Santiago fizemos vários rolês e também fomos em busca de um restaurante que a Amanda tinha ouvido falar (na verdade ela foi intimada a ir por um amigo). Chegando lá, um restaurante gigante, com cara bem antiga e cheio de quadros históricos com atores ou desportistas pelas paredes, além de uma flâmula da Chapecoense bem de frente no balcão. O Liguria tem uma história bem bacana e pratos super elaborados. Comemos bem e ainda respiramos um ar de nostalgia. Aproveitando que o espelho do banheiro masculino era cheio de adesivos, não perdi a oportunidade e colei um da Cem.
O resto do dia foi no cerro de Santa Lucia, que tem um castelo com um mirante muito legal. Caminhos em caracol, degraus e mais degraus, mas uma bela vista de Santiago e da Cordilheira. Pena que os empreendimentos imobiliários (leia-se prédios, apesar de quase todos serem baixos por medidas de segurança contra terremotos) cobrem boa parte da vista. Um moedinha de 100 pesos e voilá, pouco mais de 2 minutos de luneta de visão pelas lunetas telescópicas instaladas no local.
Para finalmente andar de skate, elegi o dia 04 de manhã (nosso voo de volta para o Brasil era de tarde neste mesmo dia). Meu camarada Humberto Campanha (Locals Only Skateshop) comentou que em sua visita havia conhecido a pista do Parque Bustamante, umas das skateparks mais tradicionais da cidade. Não tive dúvidas: resolvi que o rolê seria lá!
E assim foi, no dia 4 de manhã estávamos lá em cerca de 15 minutos de metro de onde eu estava (El Golf). Dei uma alongada e comecei minha sessão tranquilamente para relaxar. Muito sol e calor intenso. Eram necessárias algumas paradas pra descansar. Todas as vezes em que eu parava, vinha um rapaz pedir pra andar no meu skate. Trocamos poucas palavras e nem sei o nome dele. Ele usou meu skate mais umas duas vezes. Foi legal a integração mesmo sem um diálogo.
Continuei andando e pedi pra Amanda fazer uns registros, à título pessoal mesmo, e ela me filmou. Saíram algumas como um flip de back na spine (abaixo) e outras no palco e no cano reto.
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A sessão durou uma hora e pouco. Tinha que voltar pro apartamento correndo e pegar as malas.
Mas antes de ir embora da pista, fui trocar uma ideia com um outro rapaz que estava acertando várias manobras como um smith de back num dos canos altos, além de outras legais. Fui até ele e me apresentei e ele se apresentou como Isaac. Elogiei as manobras dele e agradeci o incentivo que deu nas minhas tentativas. Comentei também que era do Brasil e mostrei a revista.
Perguntei se ele gostaria de ficar com a edição e ele, como todo bom skatista, disse que sim. Era a edição nova (206), a capa do Felipe Nery. Logo ele bateu o olho e perguntou quem era o skatista. Quando respondi quem era, ele sorriu e fez uma expressão que me indicou que ele já conhecia o nome do Nery. Enfim, foi uma experiência legal! Pedi pra fazer uma foto dele segurando a revista (veja mais abaixo).
Pra finalizar, uma coisa que quem visitar qualquer parte do Chile vai notar: São os Cães (perros) de rua. Em todas as partes eles estão, e em sua grande maioria eles são dóceis.
Bom, se você chegou até aqui, primeiramente te dou os parabéns. E concluo dizendo que o Chile é muito legal e não à toa temos visto cada vez mais times de skatistas de marcas brasileiras indo conhecer as terras andinas. Eu fui no verão, mas muitos preferem o país no inverno para fazer um snowboard ou curtir a paisagem sazonal.
Cada um na sua, mas o Chile vale muito a pena.
Veja as fotos: