SKATE: UM POUCO DO VALE DO ANHANGABAÚ NO LITORIAL SUL CATARINENSE

Texto por: Leonardo Brandão @leobrandao77
Historiador


A história do skate no Brasil passa, obrigatoriamente, pelo Vale do Anhangabaú em São Paulo. Grandes skatistas se fizeram lá e por lá muitas sessions e manobras aconteceram. Mas este espaço, que foi “escola” para muitos skatistas, foi destruído em junho de 2019. A história de como isso aconteceu e também de como o Vale ressurgiu através do Memorial está documentada no excelente livro do skatista Murilo Romão, chamado VALE TXT – o qual contém, inclusive, um capítulo de autoria deste que vos escreve!

O que muita gente não sabe, entretanto, é que muitas das pedras do antigo Vale – conhecidas como pedra marrom – ainda sobrevivem em territórios longínquos de seu local de origem. Nesta matéria, enfatizamos um desses lugares que vem agitando a cena no litoral sul catarinense, mais exatamente na praia do Itapirubá, pertencente a cidade de Laguna/SC.

Neste local, o skatista Rodrigo Luvizotto construiu a Dogland Skate Spot, um espaço skatável composto de uma 45, rampas de diferentes alturas e, bem no centro, um palco ornamentado com um grande bloco de pedra marrom do antigo Vale do Anhangabaú. Bati um papo com ele para compreender como surgiu este espaço e quais são suas perspectivas futuras. As fotos que ilustram esta entrevista foram cedidas pelo fotógrafo João Paulo “Pardal.

Switch Crooked de Rodrigo Luvizzoto (Foto: Pardal)

1 – Como surgiu este espaço e como a borda do Vale do Anhangabaú veio parar aqui?

R: Eu ando de skate há muito tempo e quando eu vim morar aqui no litoral sul de Santa Catarina, na praia do Itapirubá (Laguna), não tinha muito onde praticar. Então eu fiz o curso de construção de pista  do George Rotatori e a partir deste curso eu me encorajei a construir este espaço. No decorrer do processo, fiquei sabendo, através do skatista Fernando Granja, que grande parte das pedras do Vale do Anhangabaú estava debaixo de um viaduto em São Paulo. Eu, Leonardo Trindade e o Pardal fizemos uma missão e praticamente trouxemos aqui para Santa Catarina duas toneladas de pedra. Algumas estão sendo usadas aqui nas ruas, num pico chamado Chernobyl, e uma parte está reservada para ser usada em uma pista pública que deve sair ainda este ano em Imbituba. Eu trouxe alguns blocos especiais para usar aqui em casa neste projeto… essas pedras se tornaram a cereja do bolo da pista!

O skatista Eduardo “Mineiro” executa um bs bluntslide (Foto: Pardal)

2 – O espaço aqui será aberto para os skatistas locais ou é um espaço privado apenas para você praticar? Qual é o seu planejamento?

R: Vai abrir, já está aberto, a maior parte dos amigos que eu tenho vem andar de skate aqui. No final de agosto já estará aberto oficialmente. Pretendemos também fazer um vídeo valorizando os skatista da região, que está sendo filmado todo aqui pelo Pardal, desde as primeiras sessões. Vamos fazer uma première para apresentar esse vídeo e tornar a Dogland Skate Spot um espaço para apresentar outros vídeos independentes produzidos no Brasil, fortalecendo a cultura do skate. Além disso, um dos objetivos principais, é promover projetos sociais com a molecada da região, que é uma região bem carente. Inspirado nos projetos da Ong Social Skate do Sandro Testinha, que esteve aqui no último verão junto com o time da Dozape, quero elaborar projetos sociais que não só ensinem a andar de skate, mas também transmitam conhecimentos e valores que possam ajudá-los na vida escolar e profissional.

A nova geração manobrando na antiga pedra do Vale. Elias Bittencourt executando um Crooked Grind (foto: Pardal)