Não dá pra escrever qualquer coisa nesse março de 2020 sem entrar no assunto do coronavírus. O mundo parou. E pelo pior dos motivos, questão de saúde. Risco de morte.
Mas quantas vezes, nos últimos tempos, vimos, ouvimos e sentimos coisas que nos fizeram dizer ou pensar: “agora, parei!”?
Pessoas morrendo. Ruas vazias, comércios fechados, crianças sem aula, economia em desgraça. Estamos em casa, esperando pelo fim da guerra e torcendo, sem muita certeza, pra estar do lado dos vencedores. Pra complicar ainda mais, a maior crise da nossa geração acontece justamente num momento em que boa parte das nações está nas mãos de seus piores governantes, historicamente falando. Ao menos numa delas, tenho a certeza de ser o pior que já vi.
Será que a gente precisava disso tudo pra perceber que a forma com que a vida estava sendo levada (e provavelmente voltará a ser, quando tudo passar) está longe de ser a mais adequada, ou sustentável a longo prazo?
Se você vive sem tempo pra se alimentar direito, com insônia, se o ar não é bom pra respirar, se o cheiro do rio é insuportável, se passa menos tempo com quem te traz boas vibrações do que com aqueles que derrubam sua energia…algo não está certo.
Com tudo isso que estamos vivendo, talvez aprendamos algumas lições, que sejam valiosas. Estamos vendo que muito do trabalho pode ser feito remotamente, e que aquilo que tem relação com afeto, isso sim, exige presença. Quem sabe não percebamos isso e mudemos, no sentido de estar mais próximos daqueles que precisam de nós e trabalhar e ser produtivo mesmo à distância?
Ou talvez não, já que somos bons em cometer erros, sofrer e não aprender com eles.
Era o que a tecnologia nos prometia, lembra? O pai de família que deixava de ir ao banco, porque agora resolvia tudo pela internet, e tinha mais tempo pra ficar com os filhos no fim do dia. Onde ou quando isso foi real, a não ser na publicidade? A tecnologia nos escravizou, tomou praticamente todas nossas horas enquanto achávamos que ela nos daria alguns minutos.
E o skate nisso? Ah, está entre as coisas não se resolvem através de uma tela. Exige presença.
A gente ama a rua, mas é hora de ficar em casa.
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Comecei esse texto pensando no editorial da 217, prevista para abril de 2020. Terminei assustado com ele, que me mostrou que minha insegurança com o que virá é maior do que imagino ou tento manter sob controle. Decidi postá-lo aqui mesmo, agora. Guardar pra quê? Pra quando?