Depois de 36 anos, a Transworld Skateboarding anunciou o fim de suas atividades impressas. Uma comoção geral tomou conta da comunidade do skate, com praticamente todos os skatistas importantes do mundo postando as publicações, citando o quão importante a revista foi para suas carreiras.
A TWS sempre me atraiu por ser uma revista que tomava cuidado extra com a edição, a fotografia, os textos. Isso fica evidente com a quantidade de profissionais dessas áreas que lamentam a perda. Era uma revista, com tudo que uma publicação desse tipo, exige.
Durante boa parte da minha vida, fiz uma “assinatura paralela”, reservando meu exemplar na (também) extinta livraria La Selva do Shopping Ibirapuera. E que alegria era receber aquele telefonema “Sr. Douglas, sua reserva chegou”. Foram anos esperando essa chamada, correndo pra loja e garantindo mais um mês lendo e vendo o skate da maneira mais bonita que ele podia se mostrar.
Como se não bastasse, a TWS faz alguns dos melhores vídeos da história. O Sight Unseen é meu vídeo preferido (ok, se você perguntar amanhã capaz de eu dizer que é o Mindfield, existe uma alternância eterna entre esses dois). E as trilhas sonoras? Tudo que é bom hoje, era bom nos vídeos da TWS feitos há 20 anos.
Skin Phillips, Atiba Jefferson, Garry Davis, Grant Brittain, Dave Swift, Mackenzie Eisenhour, Greg Hunt…uma infinita lista de empregados e colaboradores cujos nomes tornaram-se sinônimo de trabalho primoroso. Em meados de 2018 troquei umas mensagens com mais um deles, Jaime Owens, o último editor. Ele mandou uma caixa com as edições mais recentes. Eu nao via uma TWS impressa fazia algum tempo, já que nao existiam mais nas bancas do Brasil. Fiquei aliviado por ver que o trabalho mantinha o legado: revista bonita, opiniões sensatas. Não é fácil manter o nível de uma publicação com o histórico e sem o investimento de outros tempos, mas estava claro que o Jaime tinha na alma e no coração o espírito e o modo Transworld de ver e de fazer as coisas.
Vendida por 4 vezes desde os ano 2000, acredito que seguirão agindo em outras frentes: tem 1,3M de seguidores, e usam o domínio skateboarding.com. Não é pouca coisa nos tempos atuais, ainda que não seja nada diante de trabalho de revelar jovens skatistas, fotógrafos, editores, e consagrá-los no momento em que mereceram.
Aqui no Brasil, vimos num período recente o fim da Tribo impressa, e a Vista cada vez mais um projeto especial, sem regularidade de impressão. Overall, Skatin’, Yeah!…todas elas se foram, mesmo sem nenhuma revolução digital em curso na época. Skateboarder, The Skateboard Mag, Slap, Big Brother, Berrics Magazine…seguem entupindo armários e decorando paredes mundo afora, não mais nas prateleiras das bancas, agora tomadas por capinhas e carregador de smartphone.
Com todos esses exemplos, acho quase inócuo pensar que o fim da TWS devia trazer alguma lição sobre a importância da revista de skate impressa. Faz parte da nossa cultura, tanto quanto tirar agua de uma piscina, pular a cerca de uma escola pra ter acesso ao pátio, assistir uma vídeo parte inspiradora ou encontrar amigos do país todo num evento. Tudo que gira em torno do skate é o que faz dele muito mais do que uma atividade atlética. E qualquer elemento que faltar, fará muita falta. Nos deixará mais perto da normalidade, exatamente daquilo que queríamos fugir quando resolvermos entregar nossas vidas ao skate. E assim fizemos.
Depois do anúncio público do fim das edições impressas da TWS, paradoxalmente viu-se um grande sentimento de perda manifestado através das redes socias, justamente elas a principal doença que tem levado à morte alguns dos veículos impressos enquanto adoece lenta e irreversivelmente seus usuários (eu incluso). Numa das manifestações, Kelly Bird lamenta o fato da TWS não existir pra essa e nem pras futuras gerações.
Impossível imaginar que algo a substitua. Previsível o estrago que a falta dela vai fazer.