O skate fará sua estreia nas Olimpíadas de Tóquio em 2021. O evento, tido como o mais importante do mundo, teve início na Grécia Antiga. Havia, segundo historiadores, vários Jogos Gregos (Jogos Nemeus, Píticos, Fúnebres, entre outros), mas o mais importante de todos era justamente os Jogos Olímpicos, que receberam esse nome em função de serem realizados na cidade de Olímpia. Durante a Antiguidade, eles foram disputados 293 vezes em doze séculos (776 a.C. a 394 d.C). Na época, os vencedores eram premiados com uma coroa de ramos de oliveira.
Durante o período chamado de Idade Média os Jogos Olímpicos deixaram de existir. Seu retorno ocorreu no final do século XIX, quando o francês Pierre de Coubertin, tido como um grande humanista, resolveu organizar novamente o evento como uma maneira de alcançar a paz mundial, pois encarava o esporte como uma importante ferramenta para desfazer conflitos internacionais. Assim, os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna ocorreram no ano de 1896, inicialmente em Atenas e contaram com 13 países participantes.
Nas Olimpíadas de Tóquio, no Japão, serão ao todo 46 modalidades esportivas, sendo que, além da estreia do Skate, haverá também a estreia do Karatê, da Escalada e do Surfe. O evento terá início no dia 23 de julho e ocorrerá até o dia 8 de agosto. O skate contará com duas categorias, o Street e o Park, ambos divididos em masculino e feminino. A delegação será composta por 12 skatistas, são eles: Kelvin Hoefler, Felipe Gustavo, Giovanni Vianna, Pâmela Rosa, Rayssa Leal e Letítica Bufoni na modalidade Street; já o Park será representado por Luizinho Francisco, Pedro Barros, Pedro Quintas, Dora Varella, Isadora Pacheco e Yndiara Asp.

Barros, Asp e Pacheco, três dos representantes do Brasil em Toquio (foto CBSk/Julio Detefon)
Como todos sabem, não foi sem conflitos que o skate passou a integrar as Olimpíadas. A revista CemporcentoSKATE, em sua edição de número 44 de 2012, publicou uma longa matéria sobre o assunto, escrita por Marcelo Viegas. Nesta edição, opiniões favoráveis e contrárias sobre a inserção do skate nas Olimpíadas foram veiculadas, como as de Rony Gomes (favorável) e Adelmo Jr. (contrário).
De tudo o que já foi dito, a frase de Tony Hawk de que “Os Jogos Olímpicos precisam mais do skate do que o skate precisa dos Jogos Olímpicos” foi a que teve maior repercussão. Não porque foi dita pelo Tony Hawk, mas sim porque descortinava, em poucas palavras, que o interesse do Comitê Olímpico Internacional (COI) em buscar uma aproximação com o skate visava renovar a imagem das Olimpíadas, uma vez que muitos dos esportes tradicionais já não atraiam a juventude.
No campo acadêmico ainda são escassos os estudos realizados sobre a presença do skate nas Olimpíadas, pois trata-se de um processo ainda em andamento e de difícil avaliação. O Cientista Social Maurício Olic chegou a publicar um artigo no ano de 2014 sobre este assunto, tendo como principal documentação justamente a edição da revista CemporcentoSKATE aqui citada. Neste artigo, ele discute como as Olimpíadas afetariam ou não aquilo que se convencionou a chamar de “essência skatista”.
Para finalizar, sabemos que o skate pode ser encarado de inúmeras formas: um lazer, um estilo de vida, um comportamento, uma forma de expressão artística, um meio de interpretar o espaço…a lista segue! Por outro lado, ele também pode ser utilizado como um esporte, inclusive, de alto rendimento. No Brasil, sua organização esportiva ficou mais evidente quando surgiu a USE (União de Skatistas e Empresários) no ano de 1987, embrião para o nascimento, no ano seguinte, da UBS (União Brasileira de Skate). Os trabalhos da UBS viabilizaram competições importantes no período, fato reforçado e aprimorado, praticamente uma década depois, pela CBSK, a Confederação Brasileira de Skate, que surgiu no ano de 1999.

Luiz Francisco competirá em Toquio (foto CBSk/Julio Detefon)
Portanto, ao lado dos vídeos, das fotos em picos urbanos e das sessions for fun, a organização do skate como um esporte (leia-se: promoção de campeonatos, rankings, tabelas, organogramas, capacitação de juízes, regras de arbitragem etc) já vem sendo feita há bastante tempo. Além disso, não é segredo que um segmento do Skate há muito tornou-se um espetáculo para as massas e com eventos gigantescos, como o Maloof Money Cup, Street League, X-Games e Dew Tour. A vertente competitiva do skate é uma realidade que não surgiu ontem. Em meu livro, “Para Além do Esporte: Uma História do Skate no Brasil” tratei do assunto em dois capítulos, um intitulado: “Metamorfoses do corpo, transições da cidade: a invenção do skate como um esporte radical”, e o outro: “A organização do poder esportivo”.
Após ter sido postergada em um ano em função da pandemia do Covid-19, o dia divulgado como a estreia do skate nas Olimpíadas vem sendo o dia 25 de julho de 2021. O desempenho e a performance dos skatistas neste evento pertencem, portanto, a um futuro próximo. De todo modo, ganhando medalha ou não, a própria inserção do skate já sinaliza algo que, enquanto estudioso do tema, não posso deixar de reconhecer sua relevância. Se trará benefícios ou não já é outra história! Até que ponto isso afetará as representações e o entendimento do que é ser skatista também é outro ponto a ser debatido.
Enfim, para o bem ou para o mal, a história do skate ganhará neste ano um dos seus capítulos mais importantes. Fiquemos, portanto, atentos a ela!