Foi um domingo inesquecível pra que esteve no Vale ontem. Uma das coisas mais interessantes que escutei é que, de fato, quase sempre precisamos de fatos ruins para demonstrar união, afeto, carinho, compaixão, empatia. Poderia não ser assim, mas esses somos nós. Seres humanos cheios de defeitos.

As fotos de hoje (17/jun) pela manhã comprovam: o Vale, como conhecíamos, está destruído. Há muito pra se lembrar, outro tanto pra reclamar e bastante pra fiscalizar: a promessa de que o skate está dentro do novo Vale, com um local tão bom quanto ou até melhor do que o que hoje deixou de existir, está de pé. O diálogo entre skatistas (Murilo Romão, Marcelo Formiga, Gian Naccarato, Klaus Bohms etc.) e poder público (Fernando Chucre, Thiago Lobo, Rafael Murolo etc.) está aberto e convergente. Mas é só o começo: acompanhar o dia a dia da obra é fundamental para que tudo que se conversou, desenhou e definiu-se até agora não caia esquecido atrás de alguma mesa empoeirada pela burocracia estatal brasileira. A vigília continua e será contínua. É um negócio de 80 milhões de reais, chamado de “requalificação”. Como se o velho Valão tivesse alguma vez sido rebaixado.

Outro ponto bastante comentado: o silêncio da CBSk. Passou da hora da Confederação, pelo seu próprio bem, definir mais claramente seu papel principal no skate: cuidar de competição. Falta um ano pra Tóquio, o trabalho nesse sentido vem sendo feito exemplarmente e, goste-se ou não, campeonatos fazem parte do skate. Alguém precisa cuidar disso. A Confederação não pode oferecer o que os skatistas do Vale querem. E os skatistas do Vale não querem o que a Confederação pode lhes oferecer. Então, essa separação ajuda a todos. Acredito que quanto mais claro isso for, melhor. E a tal conversa de que “o skate competição/olímpico será benéfico pro skate estilo de vida” poderia sair um pouco da pauta. Não será. Não tem nada a ver. E nem precisa ser. Skate é muita coisa, e nunca será uma só.

No mais, o que temos até agora foi um belo exemplo de como uma mobilização organizada, pacífica e conduzida por bons interlocutores em ambos os lados pode levar a consenso. Ontem, em volta daqueles blocos, sentia-se um clima de despedida, mas era também comemoração do início de uma nova era pro pico de skate mais famoso do país. O skate não abraça a mudança: skate é a mudança. Valeu Vale. Até a próxima sessão!