No dia 25 de março passado, o skate perdeu de forma irresponsável um jovem que tinha uma vida toda pela frente. Matheus Vieira morreu ao ser eletrocutado na pista pública em que era local, localizada no bairro de São Cristóvão, na cidade de Barra Velha, em Santa Catarina.

A morte de Matheus mexeu com a comunidade skatística da cidade e de toda a região.

A descarga elétrica partiu de um poste implantado na pista, e que já vinha sendo denunciado desde o começo da pandemia, ainda em 2020. Houveram várias reclamações de choques por frequentadores até a morte de Matheus, mas a prefeitura de Barra Velha não tomou nenhuma providencia.

Informalmente, amigos de Matheus confidenciaram à nossa reportagem que o prefeito esteve presente ao último evento de skate realizado no local pelos skatistas e havia prometido a manutenção do poste, o que em quase 2 anos não ocorreu. A morte de Matheus não deveria acontecer se o poder público estivesse atento às demandas daquela garotada da pista.

Inclusive, a pista está toda esburacada, sem condições para a prática saudável do skate, além de abandonada pelo poder público.

“Nós que costumamos fazer as melhorias. A última vez em que a prefeitura apareceu, a pista foi pintada, mas a gente sabe que tinta não arruma buraco e os obstáculos, só serve pra embelezar”, declarou um dos amigos de Matheus que não quiser ter seu nome e dados expostos.

Até o momento nem o prefeito, Douglas Elias da Costa (Douglas do PL), e nem a prefeitura, declararam algo em relação a morte de Matheus. Nenhum culpado foi encontrado, mesmo com o laudo da morte do skatista comprovando a causa mortis como “descarga elétrica”. Como Matheus estava mandando uma manobra num dos corrimãos quando sofreu a descarga, ele acabou também sofrendo uma queda grave, mas não foi a causa da morte.

A prefeitura, além de um post apenas lamentando o ocorrido, marcou uma reunião com amigos, familiares e alguns frequentadores da pista de skate, mas que só será realizada em 19 de abril, quase um mês após a morte de Matheus.

No próprio facebook da prefeitura, nota-se o valor que é dado aos diversos esportes. Mas não parece ser o caso do skate em Barra Velha.

A família e os amigos de Matheus Vieira estão aguardando uma resposta da administração municipal.

Segundo amigos, Matheus era trabalhador, um rapaz alegre, que sempre estava sorrindo, gostava de carros e obviamente de skate. Ele era casado e completaria 22 anos no dia em que foi sepultado.

Os amigos de Matheus, ainda anestesiados com a morte, reuniram forças junto com a esposa Maria Júlia, e acompanharam o traslado do corpo numa espécie de skateata pelas ruas da cidade até o cemitério.

Alguns dias depois, amigos fincaram um shape com o nome de Matheus no canteiro da pista, mas que no dia seguinte foi arrancado por alguém mal intencionado.

O caso que aconteceu com Matheus mostra todo o descaso do poder público com o skate e os skatistas em geral. Não apenas o de Barra Velha, mas é algo que se repete por todo o Brasil.

O skate debutou nas Olimpíadas em 2021, saiu do underground pra figurar no Mainstream e, mesmo assim, os órgãos responsáveis continuam negligenciando suas obrigações e deveres para com os cidadãos que pagam seus impostos e só querem viver em paz fazendo o que mais gostam.

No Brasil inteiro há casos de pistas largadas e abandonadas pelo poder público, em sua grande maioria pelas administrações municipais, que são as maiores responsáveis.

Pistas mal feitas, sem nenhum critério e sem supervisão de uma equipe que entende de skate, muitas vezes com valor superfaturado, brotam todos os dias ao redor do nosso país, dos interiores até as metrópoles.

Hoje em dia, skatistas anônimos não tem nenhum respeito. São tratados como marginais e desocupados, mas quando um skatista vence uma medalha olímpica, vira referência, muitas vezes traduzindo de forma bem distante a realidade da grande maioria dos skatistas brasileiros.

Infelizmente, nem com todo o destaque e notoriedade que o skate conquistou (com seus próprios méritos nos últimos anos) foi o suficiente para angariar o respeito das pessoas e governantes para com a comunidade skatística.

É inadmissível testemunharmos a morte de um rapaz de 22 anos, cheio de vida pela frente, por conta do pouco caso dos órgãos responsáveis.

O mínimo que a prefeitura de Barra Velha deveria fazer era encontrar os responsáveis por esse crime, tomar medidas cabíveis para que uma tragédia desse tamanho nunca mais aconteça com ninguém, em lugar algum, além de fazer uma homenagem a Matheus Vieira, com seu nome cravado pra sempre naquela pista, mas que antes deve ganhar uma revitalização para que todos frequentadores e munícipes pratiquem o skate com segurança.

Assim sendo, que a memória e legado de Matheus Vieira jamais sejam esquecidas em Barra Velha e nas mentes, lixas e corações de todos os skatistas do Brasil.