O imparável e indomável coletivo Flanantes anuncia mais uma produção em vídeo, intitulado Ludens:
Sinopse:
Uma das frases célebres do filósofo judeu alemão Walter Benjamin formula: “Todo
monumento de cultura é um monumento de barbárie”. A introdução ao Ludens consiste numa
homenagem mística à memória do Nego Vila, assassinado por um policial fora de seu
expediente de trabalho, numa briga. O extermínio da juventude negra encontra sua amarga
realidade na cultura do skateboard.
Entretanto, poderíamos nos perguntar:
Quais as conexões que podemos estabelecer entre as relações com o skateboard &
David van Tieghemum, repercutindo as suas baquetas pelas possibilidades sonoras da cidade? Parece que, rodas, madeiras, trucks se convertem em verdadeiros condutores sonoros somados às trilhas que selecionamos para compor flanâncias, ou performances como a da Dornelândia, ou de Plantumana &, que, nos remete à discussão &, às nossas relações com a natureza. Estaríamos apartados dela? Se, sim, como nos reconectarmos? Se considerarmos esta conexão viável & necessária.
A relevância, no Ludens & na produção ampla dos Flanantes, dada às ruas implica,
eventualmente, quando não, cotidianamente, no confronto com a polícia militar & a defesa da
propriedade privada que não pode visualizar a prática do skateboard como um balé da boa
calçada, tal como formulado & assimilado por este Coletivo &, que, consiste numa das
expressões mais bonitas & arejadas da “cultura contemporânea”. Aqui, o skateboard encontra
suas dimensões de contradição com a sociedade envolvente nas qual ele, parece, acena querer se adaptar, distanciando-se de suas dimensões históricas, contraculturalistas & que coloca no horizonte prático de reflexão & ação o skateboard como esporte Olímpico.
O Ludens se propõe estimular uma articulação entre o skateboard & a clássica obra do
historiador da cultura, Johan Huizinga, intitulada: Homo Ludens. Huizinga nos adverte que o
esporte implica numa série de conceções e admissões de regras advindas de fora &, à qual,
“desportistas” se submetem, afastando-se, assim, dos enraizamentos do jogo das crianças, no
caso das Olimpíadas, capitulando ao imperativo do capital imperialista. Se desejarmos romper
com esta lógica, que faz das cidades e ruas vias de circulação de mercadorias & venda da
força de trabalho, o Ludens nos abre caminhos arejados para as possiblidades múltiplas de reinterpretações de espaços, tal como formuladas por Klaus Bohms & à uma aliança da cultura do skateboard com o trabalho das teorias sociais. Flanar não se reduz a manobrar, flanar implica olhar ao redor dos nossos objetos mais particulares de expressão! Estamos no terreno da criatividade.
“O espírito profissional não é mais o espírito lúdico pois lhe falta a espontaneidade, a
despreocupação” de uma vagabundagem eficaz & matilheira. A reconstrução de sujeitos que
anda de skateboard encontra a antítese do pódium, de matiz, digamos, individualista, no fato
de que: Quem ignoraria que, em verdade, os lobos andam em matilha?
A clássica campanha de propaganda, “andar de skate não é crime” poderia ser
contestada. De qual skateboard estamos falando? Seria possível pensar o skateboard como um caleidoscópio &, que, no mais das vezes, nossas maneiras de andar refletem, também, uma visão crítica & estética da vida mental cotidiana onde circulamos, intervimos ou pensamos? O desfecho do Ludens, com um fragmento de assalto po_&tico, guerrilheiro urbano_campesino, do poeta Kim Terra expressa que, a resposta à pergunta se andar de skateboard não é crime encontra uma contradição quando o skateboard encontra os espaços públicos não racionalizados para a suas experiências. E que, se há, ainda um bandoleirismo na cultura do skateboard, ele poderia ser acusado de não acomodação dos corpos sob a égide do capital & que, seu “terrorismo”, reivindica ludi_cidades!
Flanantes de todo o mundo: Uni-vos!