OITO DE MARÇO

As mulheres do Desafio de Rua 2020 (foto Júlio Detefon)

O dia 8 de março não é um dia de dar parabéns nem de oferecer flores. O Dia Internacional das Mulheres é um marco na luta feminina por igualdade; um dia para celebrar as conquistas sociais, culturais, econômicas e políticas das mulheres. Por mais que haja muito a se comemorar, a violência, a desigualdade salarial, a discrepância no mercado de trabalho e o machismo estrutural nos mostram diariamente que o caminho ainda é grande.

E o que isso tem a ver com o skate? Tudo. Precisamos falar sobre o ocultamento da presença feminina quanto à “cena” do skate – não só brasileiro, como mundial. Não é sobre “falta de nível” no skate feminino, mas sim sobre a falta de abertura. Falta do olhar das marcas para ajudar as minas no corre e falta do espaço em skateparks recheados de “mansplaining” sobre como fazer tal manobra ou o “manterrupting”na roda de conversa.

Precisamos falar da “Check it Out Girls”, criada por Liza Araújo, Luciana Ellington e Ana Paula Negrão, que se tornou a maior mídia de skate feminino que já existiu, sendo levada para vários continentes. 

Precisamos falar da Karen Jonz, que foi a primeira skatista brasileira a ganhar um campeonato mundial  – hoje 4 vezes campeã – e que competiu com homens numa época em que não havia inclusão da categoria feminina nos campeonatos. Jonz também é a criadora do “Garotas no Comando”, um dos primeiros sites no Brasil falando sobre skate feminino. 

Precisamos falar da Evelyn Leine Gargiulo, criadora do “Skate Para Meninas”.

Precisamos falar da Patiane Freitas, a primeira mulher a ser capa de uma revista de skate brasileira.

Precisamos falar sobre a Monica Polistchuk, uma pioneira do skate feminino no Brasil.

Precisamos falar da Leticia Bufoni, que ganhou 11 medalhas no X-games, 5 de ouro.

Precisamos falar da Estefânia Lima, que junto ao “Divas Skateras” fomenta a cena do skate feminino há mais de 15 anos.

Precisamos falar sobre Rayssa Leal, que com apenas 13 anos já foi indicada ao renomado Laureus – o “oscar” dos esportes.

Precisamos falar das Britneys Crew, que chegou fazendo acontecer sem passar pano. 

Precisamos falar da menina que sai de casa, contra tudo e todos, sabendo que é hoje que ela acerta aquele frontside ollie.

Precisamos e devemos falar sobre Giuliana Ricomini, Yndiara Asp, Gabriela Mazetto, Ligiane Xuxa, Marina Gabriela, Euli Vieira, Bia Sodré, Leni Cobra, Dora Varella, Marta Linaldi, Débora Badel, Patrícia Rezende, Atali Mendes, Larissa Carollo, Pamela Rosa, Sara Trindade, Grazi Oliveira, Andrea Guandaline, Vitória Bortolo, Ana Julia, Manu Kondo, Kemily Suiara, Anairam De Leon, Isadora Pacheco, Monica Messias, Ariadne Souza, Giovana Dias, Graciele Santiago, Renata Paschini, Priscila Morais, Reine Oliveira, Vitoria Mendonça, Pipa Souza, Catarina Huh, Karol Lima, Gabriela Santana e tantas outras que movimentam a cena e fazem história diariamente.

Por mais que seja lindo ver as oportunidades crescendo e as mulheres ganhando espaço, ficamos aguardando o dia em que será igual para todes. Pensando nisso, em 2021 o Troféu CemporcentoSKATE contemplará feminino, masculino e para-skatista. Além da premiação, outros projetos previstos para o ano consideram a diversidade do skate atual.

Não há como girar o mundo ao contrário e voltar ao passado, mas temos sim que mudar nossa postura quanto ao futuro e enaltecer a luta. Ter mulheres no Desafio de Rua 2020 é uma reparação histórica da CemporcentoSKATE não só com as skatistas, mas também de suas próprias mazelas. Essas portas estão agora abertas, para não se fecharem jamais. Queremos um futuro cada vez mais respeitoso, mais inclusivo e mais empático.

Afinal, o skate é para todes!

** Fica aqui meu agradecimento especial a Pipa Souza, skatista que admiro muito e que compartilhou seu Trabalho de Conclusão de Curso sobre a presença do skate feminino na mídia especializada no Brasil, para que esse texto pudesse trazer alguns nomes e fatos relevantes que fazem parte da história do skate feminino brasileiro.