Ouvindo Dwayne Fagundes

Prestes a lançar seu pro model pela DGK em terras brasileiras, Dwayne Fagundes vive momento especial. Ótima ocasião para relembrar a matéria da edição 194 (dez. 2015) e para encontrá-lo nos eventos da #dwayneproweek, em São Paulo e Porto Alegre, sua terra natal.


Confira aqui mais informações sobre o lançamento do pro model, clique aqui!

 

OUVINDO DWAYNE – Ed 194.

Escrever o que Dwayne falou é tarefa ingrata. Ainda que se trate de um cara cheio de experiência no skate, conhecedor profundo de suas raízes e que sabe bem o que (e sobre quem) fala, é na entonação, e no flow de sua fala que as coisas se tornam mais claras e suas verdades se tornam explícitas. Viveria como um rimador natural, se não tivesse optado por ser conduzido pelos seus pés e não pela boca. E a escolha foi acertada. Dwayne tem skate pra parar qualquer sessão, seja no IAPI ou em Lockwood. Tal qual um Nasir Jones com pop, é um cara pra ser ouvido e assistido. E lido, ainda que com a entonação perdida entre as palavras impressas. Aqui é só Dwayne que fala. Escute. (Prieto)

Dwayne Fagundes: bs tailslide (POA). Foto: Vinicius Branca

Preciso estar nos EUA pra ser pro, lançar meus models. Eles (os patrocinadores norte americanos) entendem minha ausência, até porquê faz tempo que tento tirar o visto pra voltar pra lá, e eles acompanham e vêem que estou trabalhando aqui, fazendo fotos, entrevistas. Não estou aqui de bobeira. Estão me ajudando nesse processo de obter novamente o visto. Venho tentando desde 2010. Meu nome está numa lista suja lá, por causa daquela antiga história das sedas que encontraram na minha mochila e que me acabaram sendo motivo pra eu ser mandado de volta pro Brasil.

Estava tudo muito fácil, tudo muito bom pra ser verdade. Cheguei nos EUA, entrei nas marcas, contatos certos, pessoas certas, lugares certos no tempo certo. Aí veio esse acontecimento pra me mostrar que as coisas não são tão fáceis. Aconteceu dessa forma pra me abrir os olhos. Talvez tenha sido bom ter voltado para o Brasil, olhar de fora a cena norte americana e ver que é aquilo que quero. Todos meus manos, Iqui, Lemos, Arabe, Dudu, todo mundo correndo junto, um carregando a mochila do outro, e eu podia estar lá, com eles. Por outro lado estou perto, ajudando minha família aqui num momento que precisam de mim. Entrei na ÖUS, marca que admiro desde o primeiro dia que vi na rua. E o que é legal é que entrei com a ajuda da rapaziada do time também, tem a amizade envolvida. Agradeço de coração, todas as noites.

Nada foi por acaso. Só vai! O Wade Desarmo (canadense) também ficou um tempo sem ir pros EUA, porque numa outra ocasião ficou alguns dias a mais lá. Jesus Fernandez também teve problemas.

Pra viajar pra Europa é tranquilo. Fui pra Barcelona em 2012 (filmando pro DGK Parental Advisory), depois 2013 pro Blood Money.

Em 2014 entrei na ÖUS, fiquei aqui no Brasil, e em 2015 fui pra Portugal, Noruega, Dinamarca. Tenho amigos de POA trabalhando e vivendo bem em Portugal, e andando de skate. Eu já estava de político na história, dizendo que ia visitá-los e nunca ia. Essa vez planejei, a Cerezini me ajudou (BCN-POR), e o (Vinícius) Branca foi comigo.

Dwayne – Hardheelflip em Lisboa. Foto: Vinicius Branca

O (vídeo) Parental Advisory bombou loucamente, o Blood Money também foi mais um up na minha carreira, mas não havia a expectativa de eu me tornar pro depois desses vídeos. Ainda preciso fazer mais algumas coisas, que sei que tenho que fazer, e estou correndo pelo caminho certo. Preciso fazer alguma coisa nas revistas gringas. Pela falta do visto, perdi a chance de estar na tour da DGK x Zero. Foi um tropeço.

Não gosto de pressão. Vamos sair pra andar de skate, tirar foto, mas sem pressão. Não interessa pra quem estamos filmando. Depois a gente vê o que vai fazer com as imagens, pra fazer todo mundo sorrir, distribuindo e dividindo. Não quero saber pra que ou pra quem estou filmando. Não funciona pra mim.

Filmei pro Parental Advisory com o Leandro Fisher, Henner Figueiredo, Claudinei, caras ponta firme da filmagem e da amizade. Nos EUA filmo com o Brad Rosado. Ele foi um cara que me ajudou demais lá, e me ajuda até hoje. Atualmente ele é o team manager da DGK, e antes ele era o videomaker. Ele abriu meus olhos nos EUA, junto com o Stevie Williams.

Gosto dos campeonatos. Não de competir, montar linha. Os caras nem me convidam pros campeonatos amadores. Vai ver que os caras acham que eu nem gosto de colar. Mas gosto de ver skate, acompanho o que está acontecendo. Corri dois Tampa Am, 2008 e 2009, os anos que o Luan ganhou. Corri Damn AM, um Red Bull Manny Mania em Washington e um da DC (King of LA), o único que me dei bem. O (Alex) Carolino me ajudou pra fazer a inscrição, e acabei ficando em quarto ou quinto lugar.

Acredito que a Street League seja boa pra quem está lá, tendo visibilidade, ganhando seu dinheiro. Se você tem um pro model é o lugar bom pra vender teu nome e seus produtos, bombar sua carreira. É a rapaziada do flip in flip out pra todo lado.

Jogava futebol no Internacional, na escolinha. Meu pai queria o futebol, ele ficou meio bravo quando optei pelo skate. Passava o final de semana com meu coroa, separado da minha mãe. Meu pai botava som nas festas, sexta saia com ele, sábado colava na Matriz de POA, ele que me levava, a praça tomada de skatistas, nem tinha IAPI.

Curto muito rap, os clipes das músicas, o lifestyle de Atlanta, onde vivi por algum tempo numa casa alugada pela DGK. Acho que isso me inspira mais até que os vídeos de skate. O Dirty South, os carrões passando, isso mexe com a minha cabeça. E eu sei que andando de skate lá nos EUA eu posso ter isso. Aqui no Brasil, além de ser mais difícil, ainda tem muita inveja, os caras crescem o olho. É mais uma inspiração, uma vontade de estar lá e vencer lá. Uma ambição. Lembro de um show que vi em Atlanta, inesquecível pra mim, do Bun B. Eram Little Brother, Paul Wall e Mike Jones. Mas quando o Bun B entrou no palco, no meio da fumaça, várias minas dançando eu pensei: mano, não acredito que esse vagabundo está aqui, na minha frente!

Dwayne Fagundes – Foto: Vinicius Branca

O lifestyle do gangueiro que ouve rap e anda nas bordas resiste no skate. Passam várias modas, mas sempre vai existir, porque é a rua, faz parte da cultura da rua. Quero passar esse sentimento numa embalada, numa manobra, na música.

O Gabriel Medina pode ser considerado por um ou por outro por ser campeão mundial, mas não tem essa relação de coletividade com os caras da cena real. Nada contra os outros estilos, filosofias, jeito de pensar. No final de tudo, é skate.

Vir do nada é começar só se divertindo, fazendo do coração, trocando informações com seus amigos, fazendo amizades. Começar caminhando lento na estrada, depois mais rápido, depois correndo,  sem se preocupar com os que tentam te puxar pra baixo: mentalizar algo e pensar que vai chegar lá, sempre querer conquistar, com o mesmo feeling de ganhar uma NBA, de lançar uma parte em vídeo, de passar pra profissional. O Josh Kalis fala isso numa entrevista: sobre o feeling da noite em que você passou pra profissional, e como fazer para que essa sensação se repita ao longo da vida. E ajudar pessoas se inspirando em você. Olhar pra trás e ver uma caminhada longa, e ver que tem mais caminho adiante. Isso pra mim é “from nothing to something”.

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