texto e fotos: Guilherme Jansen
Salve pra todos os leitores da 100%SKATEMag!
Esse ano fui para o Tampa AM pela primeira vez, e em grande estilo. Sou fotógrafo de skate e colei com mais um mano pra fazer uma vivência que eu nunca tinha visto antes. Cola aí!
Me mudei para os Estados Unidos em Maio e desde então não tive mais muito contato com a cultura do skate. A cidade aonde estou é bem pequena e não tem skateshops, apenas uma única pista, bem desgastada, e alguns poucos locais que mantém o movimento vivo.
Desde que cheguei no EUA retomei contato com um velho amigo, que também mora aqui e não via há tempos. E então, um dia, por telefone, ele me dá uma ideia:
– “Cara, por que a gente não vai pro Tampa AM 2023?”
Quase que instantaneamente, já começamos a caça aos hotéis e passagens. Resolvidas essas questões, passamos a trabalhar pesado, noite e dia, para poder aproveitar o máximo dessa viagem. Falávamos diariamente por telefone, e a gente imaginava qual seria o rolê, quem estaria presente, e até quais eram as apostas pros vencedores.. é, a expectativa era gigante!
Chegou o dia e já fui ao aeroporto. Depois de vencer as 3 horas de voo entre Boston e Tampa, num avião de uma empresa que não tinha nem água de graça (!!!), pousei na Flórida e logo já senti de cara a umidade e o calor do sul dos EUA. Liguei para o meu mano assim que saí do aeroporto, pedindo o endereço do quarto que nós alugamos – afinal, levava uma mochila e queria me livrar dela – e a resposta foi uma só: Cola aí no Tampa agora! Nada de hotel nem de quarto!
E assim entrei num táxi que partiu direto para o Skatepark of Tampa. No caminho, via de longe os grandes edifícios, sentia a maresia e contava os segundos para chegar logo ao meu destino. Cheguei no lugar, respirei fundo, olhei para cima e vi a famosa placa que anunciava a edição, datas e o ano do campeonato de Tampa. É, definitivamente eu estava no lugar certo!
Entrei à largos passos e já liguei no meu brother que me esperava na pista. Logo quando fui entrando, ele já estava me esperando e já nos cumprimentamos depois de tanto tempo. “E ae cara#$*! Tamo no Tampa, p#@*! Foi uma vibração única. Fomos direto pra pista e já fiquei de cara, pois pelas imagens eu sentia que a pista era menor, e foi justamente o contrário – a arquibancada, as seções para fotógrafos e videomakers, tudo era muito daora – inclusive os energéticos que haviam de graça para matar a sede da galera!
Munido da minha câmera e de uma pequena fisheye, já fiz os primeiros registros. Um Frontside Feeble no cano, ilustrado abaixo, e um Backside Smith. Só não continuamos por que a pista fechou e tivemos que ir embora, e de lá partimos para o rango, por que ninguém é de ferro! Remando pelas lanchonetes, escolhemos um clássico hambúrguer americano e depois fomos pro nosso quarto.
No segundo dia, aquela vibração. Acordamos cedo, tomamos um cafezinho da manhã e partimos pro nosso primeiro dia de Tampa AM 2023. E, sinceramente, que evento, que vibe. Ver toda aquela galera junta, de todas as idades, nacionalidades e estilos era daora demais. Logo de cara já encontramos os brasileiros e, é claro, abrimos aquela breja gelada. Quem não quis beber se deu bem, por que tinha um quiosque de açaí no Tampa. Eles deviam saber bem que havia brasileiro lá, hein?
Na volta para casa, a expectativa era grande. O brother que viajou comigo, Gabriel Sampaio, iria participar da disputa para as qualificatórias, e estava levando a ideia bem a sério – tanto que fez uma banheira de gelo para descansar as pernas e poder se preparar para o grande dia – uma sexta-feira 13!
De tarde, uma merecida pausa regada à lanches, cerveja, drinks e um pega-bobo clássico: Eu e uma galera gastamos uma nota preta tentando pegar prêmios naquelas máquinas de presentes e lógico, não conseguimos nada. Porém, era à noite que teríamos o destaque do evento e um dos maiores momentos da minha vida. Era hora do Vert Legends, que marcou a volta do half pipe ao Tampa e que teria presenças ilustres dos mestres do vert.
E foi ali, no susto, que surgiu o que eu considero minha magna opera na fotografia até agora. Tomado pelo êxtase e pela alegria daquele momento, apontei a minha Canon para o topo do half pipe e um cara já havia dropado. Percebi que ele estava indo na direção de onde havia focado e pelo viewfinder, observei a manobra que estava prestes à executar. Um rápido movimento e pela trick já dava pra saber quem era. Eu havia acabado de clicar o Tony Hawk mandando um Invert, e eu disparei a foto no mesmo momento em que o outro fotógrafo disparou os flashes dele. Acho que uma sorte dessas numa Sexta 13 é demais, hein?
Ainda ganhei autógrafo do próprio num pôster do Tampa AM e fiquei com a sensação de ter “zerado a vida”. Cara, era muita coisa daora acontecendo ao mesmo tempo. As luzes da skatepark se apagaram e era hora de cair na noite da cidade. Como de praxe, caímos direto no The Bricks, bar aonde aconteceram as festas oficiais dos skatistas do Tampa AM. Muita música latina, bebida, comida e uma exposição de fotos de skate e uma galeria de arte.
Já calibrados com a sintonia da noite, saímos nas ruas para ver o que mais havia de bom por lá. Tinha um monte de carrão antigo com rodão irado, muito neon, música, uma coisa bem a cara da Flórida mesmo. Eu e Sampaio fomos de balada em balada, de bar em bar, de rua em rua, de drink em drink, aproveitando a noite e a cada esquina a gente topava alguém que estava com a gente no Tampa. íamos a algum pico e depois encontrávamos mais alguém. Bebemos e decidimos que era hora de ir pra casa, mas não antes de pegar uma bela pizza no 7/Eleven com um refrigerante e ficar assistindo vídeos de skate até cair no sono.
No próximo dia a ressaca estava garantida, né? Chegamos tarde ao Tampa e mesmo assim o dia rendeu um rolê. Sampaio tentou a sorte no Best Trick, mas não foi dessa vez – pelo menos as tentativas valeram a pena! – no rolê geral, o dia foi marcado pela sessão no bowl de concreto, que rendeu mais fotos e muitas manobras, e pela segunda parte das qualificatórias, aonde de 100 skatistas, 30 avançariam para o domingo. Ah, sem contar é claro, com a famosa corrida na água podre que fica em frente ao skatepark.
Chegamos ao último dia e nas finais, a emoção era grande. Afinal, os brasileiros avançariam à final? Veríamos nossa bandeira vibrando no evento? Por fim, a disputa foi boa e dos 12 finalistas, tivemos o orgulho de ver um brasileiro (e mineiro!) no nono lugar. Carlos Garcia, de Uberaba, no interior de Minas Gerais, conquistou seu espaço entre os finalistas e mesmo não estando no Top 3, saber que um ‘de nós’ estava figurando na lista final, diante de tantos japoneses e americanos, era engrandecedor e encheu os brasileiros de orgulho.
Por fim, malas feitas, um aperto no coração e vários abraços de despedida. Chegava ao fim os quatro dias de Tampa AM 2023, um evento que entrou pra história como uma das melhores edições do rolê e que também marcou a minha vida e de muita gente no skate. Obrigado, Tampa AM. Obrigado, Skateboard!