A convidada para o Prolavra (coluna do Skatista Profissional) da edição 212 de nossa revista foi a profissional Karen Jonz, mãe da Sky.
Confira abaixo a íntegra da coluna:
Por Karen Jonz:
Quando mudei para casa onde moro com meu marido, resolvi construir um bowl. Isso foi muito antes de eu imaginar que teria uma filha. O projeto demorou tanto tempo que a pista ficou pronta na mesma semana que a Sky nasceu.
Quem executou foi o Danielzinho (Arnoni) e o Tarciso. Eles fizeram com muito carinho, do jeito que eu queria. Na época, não existiam tantos bowls em São Paulo, e eu já tava meio cansada de andar só no half. Nos primeiros meses com a bebê, ele foi palco do processo de recuperação (que na verdade, pasmem – dura até hoje, quase 3 anos depois). Os primeiros drops, fiftys, carvings, como mãe.
Recém parido, fui vendo o Park começando a ganhar mais espaço, mais meninas andando e eventos. Eu que andei no half e mini rampa a vida inteira, me peguei entrando nesse desafiador processo de transição e adaptação.
Nisso se passaram três anos e vários bons skateparks surgiram. Minha filha crescendo e eu conseguindo fazer mais saídas. Tantas opções que o bowlzinho foi ficando parado. Andava só quando não tinha muito tempo, pra uma eventual filmagem, matéria ou festinha com os amigos. Ao mesmo tempo, Sky foi tomando posse da casa. Subindo escadas, correndo, aprontando.
A vida é feita de fases, hoje vejo e aceito com clareza. Cada uma com a sua beleza, que não se repete, e é aí que mora o todo o sentido. Havia chegado a hora de mais uma transformação, que veio de fininho, abocanhando cada dia um pouco, mudando de leve. É tipo aquela manobra que você demora muito pra acertar e vai botando na base. Quando percebe já não erra mais. E foi assim, no nosso ambiente como um todo. O quarto dela foi readaptado. Não precisava mais de EVA no chão, nem de corrimão pra ajudar a ficar de pé. E a cerimônia de desmontagem, chega a ser quase mais bonita do que a de colocação. Porque a montagem tem a empolgação da expectativa, da novidade, da projeção.
E a retirada tem memórias, fatos consumados, histórias, agradecimentos e fica um pedacinho da gente que passou ali. Pinceladas de fragmentos da nossa vida: depois de um ano dormindo no quarto dela e vindo pro meu de madrugada, resolvi botar também minha cama no chão pra que ela conseguir subir sozinha sem me acordar. Isso se estendeu pela casa. Sim, no jogo de War dos bebês, eu perdi até território do quintal. E o bowlzinho, mesmo com todo seu esplendor, não estava sendo um lugar seguro para ela, sozinha.
Ser mãe me transformou, acredito que para melhor. Você que me lê aqui deve estar se perguntando: ué, ela não tinha parado de andar de skate? E eu respondo: desde quando skatista de verdade para de andar? Só quando se machuca ou morre né? Tudo a seu tempo! Você não está me vendo, mas eu estou aqui, firme e forte. Arrisco dizer que melhor que nunca. Porque com esse lance todo, eu aprendi a abrir mão, sabe? E isso me trouxe uma calma, que a Karen que vocês não aguentavam mais ver em 2008, jamais sonharia em ter.
Então a transformação interna se externou e a pistinha continuará existindo, mas vai virar uma outra coisa. Mais simples, mais resolvida, acessível, fácil, aberta e divertida. Ocupando menos espaço, porém ainda relevante. A mini rampa que desdenhei por alguns anos agora será bem vinda. E aqueles ciclos que falei mais cedo, nos enganam, pois na verdade são espirais, nos apresentando oportunidades de crescimento e evolução, feitas sob medida para cada um de nós, sempre.