Edição 91

Revista 100% Skate – Edição 91 – Outubro de 2005

::CAPA::
O skatista profissional de São Paulo (SP) Marcos Hiroshi desbrava uma trave extensa numa escola da zona leste paulistana, com um backside rockslide. Foto: Atilla Chopa

:: Matérias Principais :: 
Entrevista: Rafael Pingo
Rafael Rodrigo Pingo
22 anos, oito de skate
Patrocínio: Qix, Athle Skate Company
Curitiba (PR)

Curioso como o skate pode ser uma extensão da própria personalidade do skatista. Rafael Rodrigo, ou apenas Pingo, soube desde sempre que não poderia fraquejar, começou a vida tendo de lidar com uma negativa. Quando o skate apareceu, ele tinha 14 anos de idade, vieram junto as dificuldades comuns a outros tantos skatistas, faltava o dinheiro para os materiais, andava em condições difíceis, mal conseguia viajar. Insistiu, deu seu jeito de resolver as questões. Hoje é um profissional dos mais conceituados da nova geração do street brasileiro. Seu skate tem consistência e técnica, força. Atributo que certamente vem das experiências por que passou, da sua personalidade.

Quais foram os momentos mais difíceis que você enfrentou nesses seus anos com skate?
É até difícil falar, porque na vida nada é fácil. Comigo não seria diferente da maioria. Minha vida já não iniciou de uma forma correta. Começou pela minha genitora, uma pessoa fraca, que se acovardou em me criar, quem sabe eu seria um problema em sua vida. Para resolver, achou melhor se livrar do problema, um recém-nascido. Graças a Deus, renasci em um lar de pessoas fortes, que sem nem saber quem era aquela pessoa assumiram o seu provável problema, sem medo de injustiças, preconceitos e obstáculos. Eu cresci sabendo que não poderia ser uma pessoa fraca, e sim forte, sem me abalar com o preconceito de não ser filho de sangue dos meus pais e só com o nome da genitora no RG. Fui criado em uma comunidade humilde e com pessoas boas, mas rica oportunidades de desviar do caminho correto. Até experimentei outros caminhos, [mas] vi em tempo que aquilo me transformaria em um problema. O skate apareceu num momento crucial de minha vida, quando eu estava fraco, como aquela pessoa que se livra das dificuldades virando as costas. Pô, o meu carrinho era tudo o que eu precisava. Não era um esporte que podia se dizer: “Ficarei rico”, mas pra mim era rebeldia saudável. E o skate era igual a mim, era um problema para muitos, com muito preconceito contra e com muitos obstáculos para serem vencidos. Me caiu como uma luva.

Leia matéria na íntegra com a entrevista e fotos de Rodrigo Pingo na 100%SKATE # 91

No Foco: Stanley Inacio
Stanley Inacio
11 de skate
Patrocínios: Reef Shoes e Eleven Decks. Apoio: Planeta Surf Skate Shop, Visible, Fua, Arise.
Piracicaba (SP)

“Eu assistia aos vídeos da Europa e falava que um dia iria estar lá. Daí, comecei a juntar grana, me dava bem nos champs amadores. Então, quando passei pra profissional eu fui. O primeiro champ que eu corri foi o de Praga [Rep. Tcheca, Mystic Skate Cup 2004], e já passei pra final. Na hora em que me dei conta, estava na final, com os caras que eu via em vídeos, e isso foi legal.” Saído de Piracicaba (SP) – cidade onde está a minirrampa mais famosa do Brasil – Stanley Inacio realizou o sonho que acaba de descrever em julho do ano passado, quando participou de sua primeira temporada européia do circuito mundial WCS (World Cup of Skateboarding).

Seu depoimento, entretanto, não indica apenas isso. Representa a conquista de um skatista que saiu do interior de São Paulo para buscar espaço no cada vez mais concorrido cenário do skate profissional brasileiro. O caminho trilhado não foi exatamente fácil. Durante um bom tempo, Piracicaba, apesar da presença da já citada famosa pista, careceu de referências de peso para seus skatistas. Não havia muitos nomes locais em quem os iniciantes ou amadores pudessem se espelhar. Uma das companhias de sessão e de situação de Stanley na época era o amigo, hoje também profissional, Danilo Diehl. Santey relembra: “Essa época foi foda, só eu e ele [Danilo] sabemos disso. Só tinha o [Rafael] Cabral de profissional aqui, e não tinha muito apoio de marcas e lojas. Nós tínhamos os mesmos objetivos, então íamos para os champs meio sem a grana da volta. E eu sempre me dava bem e agilizava pra nós voltarmos. E assim ia, até a gente arrumar patrocínios, que deu mais gás pra continuar…”.

Leia o No Foco de Stanley Inácio na íntegra com várias fotos na 100%SKATE # 91

Frame PB
A fotografia em preto e branco muitas vezes é a opção mais adequada `a
estética do skate e das cidades. Nem sempre os lugares são bonitos ou
coloridos, e a melhor maneira de retratá-los é deixar as cores de lado e
partir para o preto e branco. Os tons de cinza, o contraste, o brilho e as
sombras são os fatores a serem levados em conta na hora da composição da
foto. O resultado é um estilo mais clássico, que transmite sensações por
vezes escondidas nas cores, fazendo com que o espectador atente para
detalhes que numa foto colorida ele não conseguiria ver. (Atilla Chopa)

Fotos com Rodrigo Gerdal, Jean Duarte, Danilo Diehl, Roberto dos Anjos, André Monicão, Rodrigo Maizena, Marcos Hiroshi e Rogério Chupanzinho.

:: Seções :: 

Dois Pontos: Zikk Zira
Alexandre José da Silva era um skatista profissional respeitado quando, há quatro anos, teve de se submeter a uma cirurgia. Naquele setembro de 2001, ele – um nome conhecido do street do centro de São Paulo e do Brasil – internou-se para a retirada de um de seus rins. Zikk Zira, como sempre foi chamado, não tinha um problema de saúde. Ou nada que precisasse de qualquer intervenção cirúrgica. Quem passava por um mau momento era Roberto José da Silva, seu irmão mais velho. Roberto estava, isso tinha um tempo, com o funcionamento dos dois rins comprometido, eles já não funcionavam. Corria sério risco de vida, a saída era um transplante. Todos os seis irmãos de Roberto, inclusive Zikk Zira, foram submetidos a exames para ver se alguém poderia doar o órgão. E todos acusaram 50% de compatibilidade; o único que teve 100% foi Zikk. Uma semana depois da complicada operação, Roberto estava praticamente recuperado, Zikk Zira sofreu um pouco mais, cerca de dois meses. Diz que valeu a pena. Salvou e deu vida nova a uma pessoa que considera importante. Entendeu na prática que ajudar o próximo, algo mais comum que se pensa entre skatistas, é mais que frase de efeito.

Nome: Alexandre José da Silva
Apelido: Zikk Zira
Nascimento: 29 de maio de 1975.
Tempo de skate: 20 anos.
Onde nasceu e onde mora: São Paulo, Liberdade, centro.
Patrocínio: Stand Up Shoes, Stand Up e Esze.
Primeiro skate: Bandeirantes.

Leia íntegra da matéria com Zikk Zira na 100%SKATE #91, já nas bancas.

100%SKATE Girls 
Monica Messias Versus Patrocínio
Por Evelyn Leine

A velha saga das skatistas que estão sem patrocínio volta à tona quando conhecemos a história de Mônica Messias, definitivamente um caso à parte na hora de lembrar, num tom de protesto, que ela é mais uma skatista que não tem o apoio do mercado. Caso à parte porque, aos 24 anos, Mônica é um dos nomes mais conhecidos do skate feminino nacional. E não é à toa. Seu nível e
estilo já fizeram com que ela conquistasse diversos títulos importantes e arrancam comentários de quem a vê andando: “Ela é louca!”. Apesar de seu mérito não ser fraco, é quase sem pensar que sai a pergunta: “Mas por que você não tem patrocínio?”.
Analisando o mercado por cima, é possível contar as meninas devidamente patrocinadas nas duas mãos e correndo o risco de sobrar dedos. Mas vale lembrar que o mercado feminino de skate está numa constante fase de desenvolvimento. E que um dos motivos dessa falta de credibilidade se deve ao fato de a maioria das meninas que consomem roupas de skate não praticam o esporte (são as chamadas “skatetys”). É notável o potencial que as skatistas
têm perante o mercado, inclusive porque chamam muito a atenção da mídia. Atualmente, sem o chamado “apoio do mercado”, Mônica trabalha para ter o suporte necessário para continuar a andar. Influenciada por alguns meninos de seu bairro, o skate adentrou sua vida no auge da adolescência, aos 16 anos. Até então, Mônica freqüentava ladeiras para fazer down hill. Comenta que nem gostava de street, e só virou adepta por ter vontade de correr os campeonatos e pelo surgimento de novas pistas. Menina de poucas palavras e muita base, Mônica pode enganar quem fala com ela pela primeira vez. Mas, por trás do semblante de brava, existe uma pessoa com muitos sonhos, dentre eles ser mãe e construir uma família.

Leia entrevista com Monica Messias na 100%SKATE #91, já nas bancas.

100%SKATE VISITA SUA CIDADE: Pará de Minas
Missão cumprida por Ivan Cruz

Com aproximadamente 73 mil habitantes atualmente, Pará de Minas exemplifica bem a “mineiridade”, pois , ao mesmo tempo em que tem conservada sua memória histórica, projeta-se no cenário estadual pelo seu progresso e potencial de desenvolvimento. Além disso, trata-se de uma cidade com boa estrutura para a prática do skate, um número considerável e crescente de adeptos e alguns com alto nível. É o caso do skatista Diego “Katatau”, que met surpreendeu ao acertar rapidamente suas manobras em locais difíceis de se andar, e não só em acertar as manobras, mas acertar com perfeição e total controle do que fazia.
A galera de Pará de Minas tem uma boa pista pública numa praça com vários picos para se andar, sem contar com os diversos obstáculos naturais de rua. Um ótimo lugar para se andar de skate. Pena que fique deslocado dos grandes centros, onde estão concentrados os fotógrafos e videomakers, pois tem gente que anda muito bem lá, mas quase ninguém sabe. Isso pode ser até bom por um ponto, pois a galera realmente anda porque gosta. Fico feliz por poder ter tido uma pequena participação na vida destes skatistas, que evoluem diariamente pela verdadeira paixão que têm por seus skates.

Conheça mais sobre Pará de Minas (MG) na 100%SKATE #91, já nas bancas.

Depto. Seqüencial 
Street: Wallride Ragueb Rogério

Amplitude Auditiva: Caminhos do DJ Nuts 
(por Cauê Muraro)

São duas as estradas percorridas pelo DJ Nuts, figura bastante conhecida no hip hop brasileiro. De um lado, caminha o DJ renomado, que pilota o som em algumas das mais freqüentadas noites de São Paulo (SP). Do outro, vai o artista que se define como um “pesquisador”, sobretudo da música brasileira de algumas décadas atrás; e que se dedica à produção também. São duas faces de uma mesma personalidade, e ambas convivem de modo saudável, explica o próprio Nuts. De certa forma, se complementam até.

Aos 28 anos, Nuts acumula vivência respeitável no círculo hip hop. Toca desde 1991. Durante um bom tempo, integrou a corrente “radical” (o termo é dele mesmo) do universo do rap. “Nunca fui do lado de tocar o que os outros queriam, nunca ninguém me dobrou. E fiquei agindo assim por mais de dez anos, como se fosse de esquerda, radical.” Nuts, no entanto, esclarece que hoje as coisas seguem outro rumo: “Tenho que trabalhar, tem o circuito de noites aqui em São Paulo e, dentro disso, aprendi a trabalhar pra esse público. Hoje em dia, eu já consigo tocar pro povão, às vezes festa de playboy, já não sou mais tão conceitual, radical. E isso tem a ver com pagar conta, é outra coisa”. Nesse contexto, ele toca quatro noites por semana, duas delas para bastante gente, centenas de pessoas. Às vezes, milhares.

Leia matéria completa com DJ Nuts na 100%SKATE #91, já nas bancas.

Portfolio
Wilson Domingues Wilbor
27 anos, 13 de skate – oito de arte
Rio de Janeiro (RJ)

Wilson Domingues é um guerreiro! Pra começo de conversa, fez o primeiro vídeo dedicado ao cenário do skate carioca (o 021, de 2002), na raça. Criou uma jogada com (o também carioca e skatista) Paulo Rodrigues, driblou tudo que era problema técnico e financeiro, aplicou um balãozinho no mercado e deu-lhe uma bicuda pro gol. Entrou pra história. Aquilo foi um marco e um tapa na cara de quem não via nada acontecer no skate do Rio de Janeiro! Como se não bastasse o pioneirismo, o aspecto visual do vídeo era animal.

Leia matéria completa com Wilson Domingues Wilbor na 100%SKATE #90, já nas bancas.

Fiksperto
Inovação nos vídeos nacionais
Lançado no final do de julho, Hora Extra, da marca paulistana Future Concepts, representa uma iniciativa rara e eleva qualidade das produções do Brasil

Apesar de os lançamentos de vídeos nacionais estarem um pouco mais freqüentes, ainda é raro uma marca se dispor a planejar e investir numa produção própria. A Future Concepts, marca de São Paulo (SP), tem essa mentalidade de valorizar os vídeos como forma de divulgação desde a sua formação, em 1995. Era, e é, uma espécie de ideologia de trabalho e de conceito.

Com o lançamento do Hora Extra, a Future mostra amadurecimento na produção e na edição (a cargo de Anderson Tuca), apresentando qualidade acima da média. Nesta entrevista, Fabio Brandão e Thiago Garcia, atletas da marca e idealizadores do projeto, falam um pouco de Hora Extra e sobre como a idéia inicial de se fazer um vídeo promocional acabou se transformando num vídeo “de verdade”. A première da fita aconteceu dentro da sétima edição do festival de curtas-metragens, o “Formato Curta”, realizado no MIS (Museu da Imagem e do Som), em São Paulo (SP), entre os dias 27 e 31 de julho. O evento trazia destaques da nova produção brasileira de curta duração.

Disputa de best trick e aéreo para o lançamento do tênis de Mineiro
Lançado com festa e competição para convidados e amigos no início de agosto, The Dro leva a assinatura do atual bicampeão mundial de vert

Na manhã do dia 11 de agosto, rolou no Ginásio do Pacaembu, em São Paulo (SP), o lançamento de The Dro, modelo de tênis da Reef Shoes assinado por Sandro Dias Mineirinho. O produto foi apresentado com uma homenagem especial ao atual bicampeão mundial e tricampeão europeu de skate vertical. Para comemorar, foram promovidas no half pipe da Red Bull (montado no interior do ginásio) disputas de melhor manobra, ou best trick, e de aéreo mais alto.

Para participar, Mineiro convidou os skatistas Otávio Neto, Edgar Vovô, Lécio Batista Neguinho, Cristiano Mateus, Digo Menezes, Marcelo Kosake, Sergio Negão, Geninho Amaral, Misael Simão, Eddie Rock, Jeff Cocon, Denis Buiu e Marco Cruz. Todos eles levaram um chequinho de 200 reais.

Democracia e encontro de gerações
Saiba de tudo que rolou na 1ª Etapa do 100%SKATEBANKS nos dias 13 e 14 de agosto no CEU Butanta em São Paulo. Inclusive os resultados gerais.

Um “campeonato” de street de verdade
Circuito ABASEDASRUAS, realizado neste ano em Curitiba (PR), inova nas competições ao utilizar obstáculos naturais de rua e promover disputas de manobras de solo

(Por Sidney Arakaki)
Enquanto a DC Shoes, a Quiksilver e o governo da chinês dispensam verbas grandes, dezenas de milhares de dólares, para montar uma megarrampa para Danny Way pular a Muralha da China e construir um novo pedaço da história do skate, aqui no Brasil, a Gomma Boardshop, uma loja curitibana, apresenta um evento com estrutura modesta e orçamento baixo, utilizando obstáculos naturais e autênticos de rua. São duas vertentes totalmente diferentes, que dividem opiniões quanto ao que virá a ser o “futuro” do skate.

O circuito ABASEDASRUAS 2005 acontece na capital paranaense e terá ao todo três etapas, duas delas já realizadas. Em cada etapa, há batalhas de manobras de solo e um obstáculo “natural” de rua. Na primeira, realizada em 29 de maio, o obstáculo foi uma borda da Praça 29 de Março; na segunda, foi escolhida uma transição com cavalete. Esta aconteceu no dia 14 de agosto, um domingo, no estacionamento do Estádio Pinheirão.

Laurence Probag
Desta vez o skatista profissional Laurence Reali que fala sobre os produtos que usa e depois sorteia para você, leitor.

Espaço Amador
Thiago Campos (SP), Luis Flavio “Lorim” (MG), Leandro Didi (SP) e Thiago “Xuxa” (SP).

Dando Idéia: Leituras Urbanas
“Cada um de nós é composto de cidades”,
Machado de Assis
Por Leonardo Brandão
Não há nada como sair de casa com o skate sob os pés, olhar para o horizonte de concreto que se estende e percorrê-lo com um sorriso nos lábios. Skatistas são seres urbanos; mais que isso, são exímios leitores do urbano. Tais como pintores, fotógrafos ou outros artistas, muitos skatistas são privilegiados na arte de ler a cidade. Cada um desenvolve, ao longo de sua vida, uma percepção diferenciada e única para com os aparelhos urbanos (escadas, bancos, corrimãos). Neste ato de ler a cidade, inscrevem suas marcas e deixam seus registros.

Aspectos da história de uma cidade podem ser contados pelas manobras de skate, como também histórias do skate podem ser interpretadas através de leituras da cidade. As marcas de vela numa mureta, os riscos da roda numa parede ou mesmo os amassos num corrimão de cano representam a forma como cada skatista escreve sua história na história da cidade.

CONFIRA O GANHADOR DA PROMOÇAO 100%SKATE GNOMOPROBAG DA EDIÇAO # 89
Erick Diniz, 15 anos, três de skate, São Paulo (SP)

Confira abaixo: