Revista 100% Skate – Edição 92 – Novembro de 2005
::CAPA::
Roberto dos Anjos, frontside nosegrind em Huntington Beach, Califórnia . Foto: Vianna
:: Matérias Principais ::
Desbravando Barcelona
“Barcelona é o paraíso.” A frase poderia ter saído da boca de qualquer skatista que algum dia colocou os pés, e as rodas de seu skate, na cidade. Exagero? Talvez. Mas o depoimento dá conta de explicar, em certa medida, os porquê de skatistas espalhados pelo mundo sonharem com os picos desta bela metrópole que fica no nordeste da Espanha, a segunda maior do país. Muitos skatistas profissionais decidiram-se por fixar residência ou ao menos passar longas temporadas por lá, sobretudo no verão do hemisfério norte, época que coincide com a perna européia do circuito mundial WCS (World Cup of Skateboarding). Marcas grandes do mercado estrangeiro costumam alugar residências para hospedar skatistas de suas equipes. O resultado são belos vídeos, manobras.
Trocam, assim, a Califórnia, nos EUA, terreno fértil em picos mas de difícil locomoção entre eles, pelo conforto e pela beleza da capital da região da Catalunha – ou Comunidade Autônoma da Cataluña. Em Los Angeles, por exemplo, não se consegue ir de um pico ao outro sem um carro. Gasta-se tempo nas vias expressas, free ways em inglês, algo em torno de 30 minutos. Mais que isso: tomar um ônibus faria o trajeto ter duração ainda maior e não é algo tão simples como no Brasil, por exemplo.
Confira belas fotos com os brasileiros Rafael Cabral, Rodrigo TX, Wagner Profeta, Vitor Sagaz, Allan Mesquita, Danilo Dandi, Nani Del Toro, Rafael Gomes e Cezar Gordo.
Leia matéria na íntegra com inclusive com comentários dos brasileiros sobre Barcelona na 100%SKATE # 92
BRASILEIROS NA AMÉRICA
A Califórnia é o berço do skate. Foi naquelas terras que um primeiro eixo foi encaixado em um pedaço de madeira. Final da década de 60 do século passado. Depois, muita história foi feita e escrita. Milhares de pessoas ao redor do mundo já pisaram na lixa de um skate desde então. Por serem os primeiros, e graças a uma economia forte e estável, os americanos construíram a maior indústria do skate do mundo. Exportaram não apenas marcas e equipamentos, mas a imagem de um país onde estão os melhores skatistas do mundo (mesmo que não sejam americanos) e os melhores picos para se andar de skate. E essa imagem foi exportada de uma maneira muito forte.
Lucio Flavio Andrade Santos Mosquito, 29 anos, 17 skate
Patrocínio: Inc. 3, Conexxion Wheels.
Aracaju (SE) / Costa Mesa, Califórnia
Há quanto tempo você está nos EUA? Era seu sonho morar na Califórnia?
Quatro anos e meio. Não era meu sonho, não. Foi como as coisas aconteceram mesmo. Eu sempre vinha para dar um “role” todo ano, depois do Slam City Jam [tradicional campeonato que todos os anos acontece em Vancouver, no Canadá; umas das mais principais etapas do circuito mundial WCS]. E achava aqui [EUA] muito bom para andar de skate, mas não pensava em mudar para cá. Achava que não me adaptaria à vida e aos costumes daqui. Depois de 2000, começou uma galera a vim para cá e, no meio, veio o [Adelmo] Juninho e o [Fabrízio] Cara-de-Sapo [profissionais brasileiros que vivem nos Eua há alguns anos]… Isso me motivou a vir morar, já que eles também eram de Aracaju e fazíamos as sessions juntos. Em 2001, apareceu o Kao Tai [skatista brasileiro veterano, um dos primeiros a ir viver nos EUA, muitos anos atrás], da PTS [marca de tênis], para bancar as despesas para Tampa [cidade da Flórida onde acontecem o Tampa Pro e o Tampa AM] e já ficar por aqui fazendo um dinheiro. Na verdade, se não fosse o Kao Tai, eu não teria vindo, porque tinha bons patrocínios no Brasil e não valeria a pena arriscar o certo pelo duvidoso.
“As sessões aqui no EUA sempre são muito divertidas e sem stress.”Mosquito
Roberto dos Anjos
Patrocínios: Low Clothing, Osíris, Ogio
São Paulo (SP) / Huntington Beach, Califórnia, EUA
Quando você teve a idéia de mudar para os EUA?
A idéia de ir pros EUA sempre esteve na minha cabeça. Desde o começo [no skate], sempre olhei revista gringa, e eu sempre ia na casa do [Anderson] Tuca [um dos mais conhecidos video makers do Brasil], ele morava do lado da minha casa, e eu não sei como, ele tinha todos os vídeos gringos. Santa Cruz, essas coisas, ele tinha tudo lá gravado, uns dez vídeos numa fita só, então sempre tive pensamento de ir pra gringa, essa coisa na minha cabeça. Mas acho que o que fez eu ir mesmo foi a situação no Brasil, porque chegou uma hora que eu tinha conquistado tudo já: os patrocínios, me sentia importante aqui, respeitado pelos skatistas, pelas revistas e tudo mais… Chegou uma hora em que eu estava até começando a andar menos de skate, porque já estava tudo ali, era só eu andar mais no dia-a-dia. Não tinha mais o que conquistar, e sempre gostei de conquistar: manobras, lugares, campeonatos, tudo, tudo. Então, isso fez eu decidir ir pros EUA, pra começar a fazer as coisas difíceis de novo. E lá você pode ajudar a sua família, isso tudo veio junto pra mim.
Nesse sentido, pode-se dizer que ir para os EUA representou uma evolução para você?
Lá eu ia continuar a evoluir, e as pessoas que admiro também foram pra lá. Então, era mais um motivo pra eu partir.
Em que ano você foi?
Faz três anos e meio exatamente que estou lá. Eu fui para ficar. Acontecesse o que acontecesse, eu ia ficar lá.
“Eu acho que hoje não sou mais tão forte porque não como mais tanto arroz e feijão.” – Roberto dos Anjos
Cara de Sapo
Fabrizio Santos Cara de Sapo, 27 Anos, 15 de skate
Patrocínios: Shorty’s, Crail Trucks, Bones, Ghetto Child, Oakley, Etnies, Split
Aracaju (SE) / Costa Mesa, Califórnia
Há quanto tempo você está nos EUA? Era seu sonho morar na Califórnia?
Eu estou morando aqui já faz cinco anos. Não era meu sonho morar aqui, mas eu sempre quis vir pra cá e andar nos picos que eu via nos vídeos. Daí, acabei ficando.
Quais as expectativas antes de ir para os EUA?
A expectativa que eu tinha antes de vir pra cá era de ver os gringos andando e andar nos picos que eles andam.
Além de fotos com Lúcio Mosquito, Roberto dos Anjos e Cara de Sapo a material ainda conta com imagens de Marcio Torreta, Charles Chaves, Adelmo Juninho, Wagner Ramos e Ricardo de Carvalho.
Leia materia na íntegra com várias fotos na 100%SKATE # 92
:: Seções ::
Dois Pontos: Biano Bianchin
São poucos os profissionais de skate no Brasil a ter o mesmo poder de influência e reputação de Fabiano Bianchin. Nascido em Esteio, nos arredores de Porto Alegre (RS), Biano, além de chamar atenção pelo skate que vem apresentando há quase duas décadas, ganhou notoriedade por ser um dos mais bem-sucedidos profissionais brasileiros. Alcançou isso vivendo no Brasil. Vai daí que suas palavras e opiniões despertem muito da curiosidade dos que vivem o mundo do skate. Aqui estão algumas delas.
Nome: Fabiano Bianchin.
Apelido: Biano.
Nascimento: 3/3/1975.
Tempo de skate: 17 anos.
Onde nasceu e onde mora: nasci em Esteio (RS), moro em São Leopoldo (RS).
Patrocínio: Volcom, Reef, Crail Trucks, Sick Mind Boards.
Primeiro skate: shape Fernandinho Batman [profissional dos anos 80] sem nose e sem tail, roda Veriflex com o miolo estourado e truck marca Diabo.
Leia íntegra da matéria com Biano Bianchin na 100%SKATE #92, já nas bancas.
100%SKATE Girls: Marcela Valente
A skatista Marcela Cristina Valente vem de Nova Odessa, cidade do interior de São Paulo. Conta que sua cidade e região tem poucas meninas andando – basicamente, ela e mais duas –, mas elas fazem força para manter contato, marcam sessões juntas. Aproveitam também para se juntar quando há algum campeonato por ali.
Acontece, então, de Marcela andar na maioria das vezes ao lado dos meninos de Nova Odessa, e não vê problemas nisso, não mais. “Geralmente, ando com eles. E meu namorado, o Felipe, também anda”, explica. O que antes causava vergonha, um tombo na frente dos rapazes, por exemplo, agora é natural. (“Eles só vêm perguntar se está tudo bem e pronto.”) As sessões geralmente acontecem na única pista da cidade, que não é exatamente um exemplo de skate park… “Mas é melhor que se não tivesse nada”, avalia a única skatista do sexo feminino a freqüentar regularmente aquele espaço.
Leia entrevista com Marcela Valente na 100%SKATE #92, já nas bancas.
100%SKATE VISITA SUA CIDADE: DOMINGOS MARTINS (ES)
Missão cumprida por Ivan Cruz
Localizada a 42 Km de Vitória, Domingos Martins – também conhecida como “Campinho” – é uma das principais cidades da região serrana do Espírito Santo. A população é de 30.570 mil habitantes, em sua maioria de origem alemã e italiana. O clima apresenta temperaturas que variam entre 8 e 30º C. Nas áreas mais altas a temperatura no inverno registra até 0º.
Em Domingos Martins, encontram-se muitas flores, águas puríssimas e uma exuberante porção da Mata Atlântica, além de comidas típicas, festas o ano todo e monumentos construídos pela natureza e pelo homem. As propriedades rurais, com suas comidas típicas, paisagens e peculiar modo de vida, são opções que ajudam no turismo rural do município. Em muitas fazendas, existem alojamentos que proporcionam atividades como passeios por trilhas na mata, banhos de cachoeira e muita emoção nas corredeiras do Rio Jucu.
Infelizmente, quando se trata da galera que anda de skate em Domingos Martins, as coisas não são belas. Os skatistas lutam para ter um espaço onde possam construir suas rampas e lá deixá-las em segurança. Por diversas vezes, foram construídos obstáculos, mas eles sempre são destruídos por aqueles que crêem que andar de skate faz de alguém um marginal, imprudente. Como se, de repente, quem sobe sobre a “tábua com rodinhas” mudasse de personalidade instantaneamente.
Conheça mais sobre Domingos Martins (ES) na 100%SKATE #92, já nas bancas.
Depto. Seqüencial
Street: Feeble Márcio Tarobinha
Amplitude Auditiva: SUICIDAL TENDENCIES
Perto do skate e do brasil
Em entrevista exclusiva, Mike Muir, líder e vocalista do grupo que toca no Brasil em novembro, fala sobre skate, música e estilo de vida
Por Alexandre Vianna
Era 1983, tempos em que o punk/hardcore feito na Califórnia não era exatamente sinônimo de um “estilo musical”. Isso viria a acontecer somente anos depois, sobretudo com a chegada da década de 90 e o sucesso de bandas surgidas naquela região. Já se vão 22 anos, portanto, desde que foi lançado o primeiro disco do Suicidal Tendencies, quarteto nascido em Los Angeles. O clipe da música “Institutionalized” – ela está no citado álbum de estréia – marcou uma das primeiras vezes em que imagens de skate eram veiculadas na MTV americana. Se não A primeira vez.
O Suicidal Tendencies tem mais de 20 anos de existência, e a nova geração dos skatistas talvez não os conheça tão bem. Como tudo começou?
Eu tinha 16 anos e estava com meu irmão em uma casa que alugávamos em Venice Beach [praia de Los Angeles]. Um amigo nosso tocava bateria em seu apartamento e foi expulso pelo barulho. E nós o convidamos para levar [o instrumento] lá para casa. Aí, outro amigo levou uma guitarra e decidimos: “Vamos tocar música!”. No começo, para nós, era como jogar bola aos finais de semana. Mas aí começamos a fazer umas festas em casa todo mês, chamadas “festa do aluguel”. Fazíamos essa festa para arrecadar grana para pagar o nosso aluguel e tocávamos nela. As festas começaram a crescer, muita gente ia, e organizamos festas maiores com outras bandas envolvidas. Foram muitas “festas do aluguel”, até que fomos chamados para abrir outros shows de punk rock e fazer umas camisetas. Mas nossos shows chamavam mais atenção e público do que os dos outros punk-rockers, e aí é que levamos a sério o Suicidal Tendencies.
Leia matéria completa com SUICIDAL TENDENCIES na 100%SKATE #92, já nas bancas.
Portfolio; Fernando Martins
Por Felipe Motta
Conheço esse cara, de vista, há muito tempo, mas achava que ele não ia com a minha cara. Outro dia contei isso a ele e o próprio me disse que muita gente acha o mesmo, mas é pura timidez. É verdade: Fernando Martins, o ‘Merzbau’, é tímido, mas também daquelas pessoas que logo que conhecí, criei afinidade! Não tinha a mínima idéia que ele fotografava e quando comecei a prestar atenção, já tinha virado fã do trabalho do cara. O olhar de Merzbau, o enfoque que ele dá ~às fotos, a maneira que elas fazem a gente se imaginar no lugar do skatista (ou seja lá quem ou o que for) retratado é, na minha opinião, impressionante e um mérito que poucos conseguem atingir!
Leia matéria completa com Fernando Martins na 100%SKATE #92, já nas bancas.
Fiksperto
100%SKATEBANKS – 2ª Etapa
Ceu Campo limpo abre as portas
No final de semana dos dias 17 e 18 de setembro, foi a vez do CEU Campo Limpo, em São Paulo, receber uma etapa do circuito paulistano de banks, o 100%SKATEBANKS. Este segundo evento do circuito teve como um de seus diferenciais a presença de atletas internacionais, como o argentino Pablo Martinez e o alemão Manuel Maier. Martinez, inclusive, veio ao Brasil especialmente para participar desta segunda etapa.
No sábado (dia 17), as competições começaram pela categoria Master, que reuniu competidores com idade entre 30 e 34 anos. O nível estava alto, com alguns profissionais veteranos dando o máximo de si. O paulista Henrique Migliano, o Banana, vencedor da primeira etapa, mostrou manobras de alto nível, mas não conseguiu bater a volta de Rodrigo Chileno, de Santo André (SP), que mandava aéreos nos calombos na altura da cara e manobras de borda por toda a pista. Depois, foi a vez de o Grand Master (35 a 39 anos) entrar em cena. E foi nesta fase da disputa que apareceu o talento do argentino Pablo Martinez. Com uma linha consistente, que incluía um invert na extensão, um boneless no transfer e um backside tailslide reverse para finalizar, ele venceu com certa facilidade. Em segundo, terminou Jeff Cocon, já conhecido por vencer competições nesta categoria. O sábado terminou com a disputa do Legends (skatistas com 40 anos ou mais), que teve presença de Come Rato, do Rio de Janeiro, umas das maiores lendas do skate brasileiro. Quem se saiu melhor, porém, foi o wave boy Bruno Brown, que, com suas linhas velozes, soube aproveitar todos os cantos da pista, pulando calombos e terminando com um rockslide bem extenso.
Curso em porto alegre ensina a fazer shapes e pistas
Projeto tem participação do governo federal e da Federação Gaúcha de skate e é direcionado a adolescentes de áreas carentes da cidade
A iniciativa é pioneira – talvez não apenas no Brasil, mas no mundo todo. Basicamente, consiste num curso que ensina jovens de origem humilde a construir rampas e shapes de skate. Os alunos vêm de áreas periféricas da cidade de Porto Alegre, capital gaúcha, a idade varia entre 16 e 20 anos de idade, alguns, internos em regime semi-aberto da Fase (Febem). Todos foram selecionados entre muitos candidatos, já que ganham, além de lanche e vale-transporte, uma ajuda de custo de 150 reais. Primeiro, recebem aulas de informática, gestão. A seguir, um curso de marcenaria aplicada ao skate, dividido em teoria (desenho técnico) e prática (produção de obstáculos e shapes). Recebem ainda noções de cidadania e mercado; o curso teve duração de quatro meses ao todo, sendo os dois últimos focados especificamente no skate. O resultado foram diversos obstáculos e shapes construídos, que, completados com as outras peças, garantiram que cada aluno saísse com um skate montado.
Everton Tutu Probag
Desta vez o skatista profissional Everton Tutu que fala sobre os produtos que usa e depois sorteia para você, leitor.
Espaço Amador
Sidney “Pererê” (SP), Sérgio Ribeiro (RJ), João “Anjinho” (SP) e Luis Paulo “Aladin” (DF).
Dando Idéia: “Quem Somos Nós”
Por Douglas Luiz Pietro
Nós somos assim. Nada vem fácil, tudo é conquistado com muita luta e correria. Não temos o físico de aparência saudável do atleta padrão. Estamos ralados, inchados, doídos, sangrando. Cicatrizes por toda parte. Nosso nutricionista é o dono do bar da esquina. Médico? Vi um ontem. Ele gritava: “Sai daí, vai quebrar toda a calçada!”. Cuidamos da nossa saúde no altar, no terreiro, com gelo e água quente. Tomamos sol de calça jeans, sobre o concreto quente, pedindo por favor pra tomar água da torneira.
Nossas festas nem sempre são um sucesso. As meninas bonitas nem sempre aparecem. Nem sempre acabam bem. Nossa música não está em primeiro lugar nas paradas. Provavelmente estará daqui a uns três anos, mais aí ela não será mais a nossa música. Estaremos ouvindo outra coisa. Se o que vestimos virou moda, não foi nossa intenção. Só precisávamos de liberdade nos movimentos.
Confira abaixo: