Revista 100% Skate – Edição 95 – Fevereiro de 2006
::CAPA::
O skatista profissional Diego de Oliveira, desce um grande corrimão em uma escadaria double set de frontside boardslide em São Paulo (SP). Foto: Chopa
:: Matérias Principais ::
No Foco: Lucas Xaparral
Entrevista por Cauê Muraro e fotos por Homero Nogueira
Os que acompanham o skate amador do Brasil destes tempos sabem que o paulistano Lucas Carvalho, apelido Xaparral, acumula invejável currículo em apenas dois anos na categoria. Conhecem-no, sobretudo, por seu ótimo desempenho em campeonatos. Venceu, por exemplo, o Circuito Plasma Skate Park 2004, de São Paulo (SP), série de eventos apenas para convidados, amadores de ponta. Como prêmio, levou uma passagem para a Europa em 2005, experiência de valor inestimável para um garoto de 17 anos, cinco deles andando de skate, que viu sua carreira deslanchar em pouquíssimo tempo.
Já os mais atentos, vêm notando que Xaparral merece créditos não somente por ir bem nas competições. Enxergam nele um nome forte da geração que pelos próximos anos será responsável pela evolução técnica do skate brasileiro. Um skatista que, sim, foi atrás de correr o máximo de campeonatos amadores que pôde. Mas que também passou 2004 inteiro juntando boa parcela do salário que ganhava trabalhando na loja de capacetes de motocicletas do pai, ex-corredor profissional de motocross, para financiar viagens. Experiências. Para Tampa, nos EUA, aonde foi no início de 2005, levou o pai junto. Vai fazer o mesmo em 2006. O porquê disso está nas próximas páginas.
A influência do pai
Eu não tenho muita ligação com moto, mas já gostei muito, tenho uma motinho até, ando pela cidade… Meu pai corria de motocross, já foi campeão brasileiro e tal, era profissional. Aí, ele se machucou, parou antes de eu nascer, nasci bem na época em que ele estava zoado. Por um lado ele apoiou bastante [no skate]. Mas, por outro, ele tinha muito medo, porque, como tinha patrocínio da Yamaha e machucou feio, os patrocinadores falaram: “Já era, não vai mais nem andar de moto”, e no auge dele, ele acabou com tudo – então meu pai tinha esse medo de que acontecesse algo assim comigo no skate.
E comecei a andar de skate um pouco por causa dele. Antigamente, ele era drogado e ficava lá no Pacaembu a noite inteira, usando droga. E eu ia junto, tinha uns 12 anos, ficava lá andando de moto a noite toda. Mas tinha hora que enjoava, aí eu pegava o skate da galera e ficava andando. Eu comecei a andar de skate também porque os amigos perto de casa andavam, e sempre tive vontade, sempre andava com o skate dos moleques e tal.
Graças a Deus, hoje o meu pai está curado. Então, por um lado até que foi boa essa experiência que ele teve – e que eu tive também, indiretamente -, porque, graças a Deus, não uso nada. Graças a isso, pois vi já o lado ruim da história com o meu pai, e não precisei passar pela mesma coisa. Agora, meu pai me apóia bastante.
Leia este No Foco na íntegra com fotos de Xaparral em ação na 100%SKATE # 95
Tornando-se Imortais
Uma sessão de skate pode representar coisas bastante diferentes, dependendo da situação. E do próprio skatista. Para uns, há dias em que ela é quase que um “treino” – caso, por exemplo, dos empenhados em campeonatos. O skatista executa e aperfeiçoa manobras enquanto pensa em como elas poderiam ser encaixadas numa linha de competição. E não importa aqui julgar se isso é bom ou ruim. Importa que o ele se sinta bem, ande por prazer, não por obrigação. Mas, para outros, uma sessão de skate significa, sobretudo, uma oportunidade de juntar uns amigos e caçar picos ainda desconhecidos por uma cidade qualquer. Se houver como registrar isso com fotos, então o cenário fica ainda melhor.
Assim, uma session aparentemente “simples” ganha outra dimensão. Não apenas porque o skatista sabe que as manobras serão eternizadas nas fotografias. Mas também porque essas imagens farão todos os presentes recordarem de momentos únicos, e por isso especiais. Às vezes uma manobra acertada, ou então uma tentativa que passou perto e resultou na promessa de um empenho maior numa próxima oportunidade, um aplauso ou incentivo vindo na hora certa…
Leia matéria na íntegra com fotos dos skatistas Wagner Profeta, Alberto Dantas, Misael Simão, Vitor Simão, Sergio Garb e Ionir Mera na 100%SKATE # 95
:: Seções ::
Dois Pontos: Digo Menezes
Paulistano da Vila Madalena – isso é ele próprio quem cita, com orgulho e freqüência -, Digo Menezes conta 18 anos de vivência sobre o skate. Nesse tempo, soube reinventar-se para o carrinho (talvez “renascer” fosse o termo mais adequado) como ninguém. No início de sua carreira, Digo foi uma espécie de prodígio do down hill, venceu competições amadoras importantes da modalidade, eram os anos 80. Mais tarde, já na década seguinte, dedicou-se por anos a fio ao vertical quando andar em half no Brasil estava quase que fora de moda. O resultado: em julho 1995, aos 17 anos de idade, ele se sagrou campeão do vert no Munster Monster Mastership, na Alemanha, evento considerado à época o “campeonato mundial de skate”. Era o primeiro brasileiro a alcançar tal feito, entrou para a história. Depois, conquistou várias vezes o circuito brasileiro profissional, sempre morando no Brasil… E tem pouco tempo que Digo resolveu se reinventar uma vez mais. Desta vez, não apenas para o skate; mudou o jeito de encarar a vida. Junto disso, veio o título de vice-campeão do circuito mundial WCS em 2005 e uma evolução técnica que impressiona.
Nome: Rodrigo Menezes.
Nascimento: 29/01/1977.
Tempo de skate: 18 anos.
Onde nasceu e onde mora: em São Paulo (SP), na Vila Madalena.
Patrocínio: Globe, Lost, Evoke e Type-S.
Primeiro skate: shape de fibra muito pequeno, trucks Costa Norte e rodinhas apelidadas por gelatinosas… (risos). Não lembro o nome.
Leia íntegra da matéria com Rodrigo Menezes na 100%SKATE #95, já nas bancas.
100%SKATE Girls: Karen Jones
Cinco anos de skate
Patrocínios: Element, Gallaz e Vibe
Santo André (SP)
Karen Jones é hoje a skatista de maior destaque em atividade no Brasil. E 2005 foi um ano em que isso se comprovou. Além de bons resultados alcançados em eventos no exterior, Karen acumulou experiência e elevou o nível do skate vertical feminino a um patamar nunca antes visto no país. Nesta entrevista, ela conta mais sobre seu momento atual e sobre sua visão muito particular do skate.
“Dou importância pra uns detalhes que ninguém dá, às vezes pequenas coisas valem mais do que os próprios títulos.”
O que você faz quando não está andando de skate?
Desenho, penso, leio, como pipoca, escrevo, estudo, toco, faço bolo de banana, brinco com o Bufa, cinema, namorado, trabalho…
Você já realizou os sonhos básicos de uma skatista: fez viagens internacionais, tem patrocínio gringo, melhor skatista do Brasil do ano de 2005, enfim, vive do skate. O que falta na sua carreira?
As marcas são gringas, mas o patrocínio é daqui. Entrar pra equipe internacional seria uma boa. Ser campeã mundial, também (fui campeã européia, mas nem ganhei título oficialmente…), cada hora tem uma coisa a mais, ninguém está satisfeito com o que tem. Pergunta pro Bob, Sandro [Dias], Danny Way se os caras estão satisfeitos. Por isso que a coisa evolui, porque tem que se pensar em algo maior, e maior e maior. Uma ambição no bom sentido. Mas fora o skate tem muitas outras coisas, crescer como pessoa, aprender outras coisas. Se não tiver bem no resto, nem andar de skate consigo direito.
A partir de que momento você decidiu que era do skate que você queria viver?
Não fui eu que decidi. Foi decidido por mim. Chegou uma hora que eu tava vivendo de skate. Não que não tivesse lutado pra isso, porque foi o que sempre quis. Sei fazer outras coisas, sou formada em duas faculdades, mas não consigo ficar mais de três, quatro dias sem andar. Teve momentos que tive que optar em trabalhar mais ou andar mais. E antes sempre queria trabalhar. Mas quem estava ao meu redor acabou não me deixando, viram que eu ia fazer burrada se resolvesse não andar. Não me arrependo nem um pouco, até porque continuo fazendo todas as outras coisas que quero. Só preciso aprender a dividir meu tempo melhor.
Mas essa história tá começando agora, não faz nem um ano que posso me considerar profissional, porque ganho salário. O fato de não ter campeonato aqui que pague em dinheiro é um saco, se fosse na gringa já dava pra ter juntado uma grana boa e ficar mais tranquila. Mas não tenho medo também, porque, como disse, faço outras coisas, quando um lado não está bom tem o outro. Mas o skate sempre em primeiro.
Leia entrevista com Karen Jones na 100%SKATE #95, já nas bancas.
100%SKATE VISITA SUA CIDADE: Itararé (SP)
Missão cumprida por Ivan Cruz
Localizada no extremo sul do Estado de São Paulo, fazendo divisa com o Paraná, Itararé é uma cidade agraciada: tem uma bela constituição geológica, com muitas cachoeiras que brotam de paredões e canions não muito profundos, num raio de vinte e cinco quilômetros. Muitas de suas belezas ainda foram muito pouco exploradas, mesmo por seus próprios moradores, o que significa que é um ótimo lugar para se passar alguns dias curtindo a natureza.
Conheça mais sobre Itararé (SP) na 100%SKATE #95, já nas bancas.
Depto. Seqüencial
Street: Halfcab Backside 180 flip por Esteban Florio
Amplitude Auditiva: Contra Fluxo
Contra mão da Mesmice
Por Cauê Muraro
O texto do Contra Fluxo que está no site Trama Virtual fala em “fechar os olhos e enxergar poesia nos beats, melodia nas palavras…”. Isso sugere várias interpretações, dentre elas que o grupo tem bastante cuidado com a elaboração das músicas. Além disso, que elementos da sonoridade do grupo podem ser percebidos através dessa afirmação?
Que o grupo tem o cuidado de ser instintivo em suas composições, sendo verdadeiro com as palavras e usando um tipo de poesia humanista, priorizando o instinto humano e os sentimentos de conflito entre o bem e o mal que assolam e perturbam o homem. O Contra Fluxo é um grupo muito intuitivo e preferiu de uma maneira natural explorar temas que os outros grupos de hip hop não falam nas letras. Isso torna o Contra um coletivo de pessoas com idéias diferentes, na contramão da mesmice do rap moderno.
Leia matéria completa com entrevista do Contra Fluxo na 100%SKATE #95, já nas bancas.
Marcelo Schwebel Di Osti Vieira
28 anos, dez de skate – sete de arte
São Paulo (SP)
“Sempre vi o skate como uma forma de expressar minha liberdade, e na arte tenho essa mesma possibilidade, é uma relação única… Eu, minhas idéias e meu skate.” Marcelo Shwebel, skatista e artista plástico paulistano, explica assim o fato de seu interesse por arte ter, de certa forma, ligação com o envolvimento com o skate. Ele conta que, na verdade, sempre gostou de desenhar – “desde moleque sempre rabisquei meus desenhos onde podia”. Desde um tempo atrás, no entanto, a vontade de expressar os pensamentos através da arte ganhou força. A partir daí, foi natural que esse interesse o fizesse juntar, na prática, skate e arte. “Hoje estou desenvolvendo trabalho para a Dynamic, que é uma nova marca voltada para arte e skateboard. Há algum tempo, desenvolvi uma série de shapes para a Sick Mind.”
Quanto ao estilo de suas pinturas, Marcelo afirma que não segue muito um padrão. Diz que não pode denominar sua arte como cubismo ou surrealismo, por exemplo, mesmo porque confessa ser admirador de todo tipo de expressão artística. A inspiração vem da música, do dia-a-dia, “do sentimento do momento”. “Mas gostaria de citar [como influência] o Pablo Picasso, que é com quem mais me identifico pelo seu estilo”, assume, para encerrando a questão.
Contato: [email protected]
Leia matéria completa com Marcelo Xue na 100%SKATE #95, já nas bancas.
Fiksperto
Última etapa do Circuito 100%SKATEBANKS
Interação de gerações, diversão todo o tempo e competitividade quando preciso. Esse foi o saldo, após a realização de quatro etapas – a primeira delas em agosto, a última no início de dezembro (veja as datas abaixo) -, do Circuito Paulistano de Banks, o 100%SKATEBANKS. Ele foi concebido, desde seu o início, com base na idéia de oferecer confraternização e uma disputa saudável aos praticantes daquela que é tida como a mais democrática modalidade do skate. De início, a iniciativa chamou atenção por ser inédita. Nunca havia tido no Brasil, afinal, uma série de competições, um circuito de fato, dedicada exclusivamente ao banks.
As atividades foram encerradas com a etapa do CEU Parque Veredas, em 10 e 11 de dezembro. Para muitos, a pista utilizada foi a melhor de todo o circuito. Não apenas isso: os participantes tiveram ali uma ótima receptividade por parte da comunidade local, que no sábado ofereceu um churrasco a todos os presentes. O resultado foi que durante os dois dias do evento os competidores se esforçaram ao máximo para não perder a última chance de garantir uma colocação entre os primeiros e fechar o ano com uma boa posição no ranking. Essa etapa derradeira, com muito skate e confraternização, resumiu bem o espírito de todo o circuito. E, depois de tudo terminado, percebe-se que foram feitas algumas contribuições importantes ao próprio cenário do skate em 2005.
Yellow Probag
Desta vez o skatista profissional Carlos Yellow que fala sobre os produtos que usa e depois sorteia para você, leitor.
Espaço Amador
Marcelo Francischini – Poá (SP), Mario “Romário” – Guarulhos (SP), Flavio Henrique – Itapetininga (SP) e Bruno de Araujo – São Paulo (SP).
Dando Idéia: Lembranças do Parque Espacial
Por César Calejon
“As pistas devem ser freqüentadas por pessoas que vão para praticar o skate. Criar um tipo de associação em cada pista, organizar grupos para garantir a conservação e a manutenção
“Puta, que tristeza.” Dizer esta frase foi a primeira reação do skatista Henrique Banana ao se deparar com o que foi, durante o fim da década de 90, uma das melhores pistas de skate do ABC paulista, região metropolitana de São Paulo. A história da extinta pista do bairro Parque Espacial, em São Bernardo do Campo, retrata bem como as drogas e a violência literalmente destruíram um pequeno paraíso do skateboard. Transições absolutamente lisas e perfeitamente conectadas, com direito a minirrampa, corrimão e palquinho, tudo destruído. O local que antes proporcionava diversão a milhares de skatistas foi reduzido a um melancólico parquinho para crianças, com dois brinquedos obscuros e que possivelmente criança nenhuma jamais utilizou. Puta, que tristeza.
A assessoria de imprensa da Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo afirma que “a pista de skate do Parque Espacial foi quebrada em função de um abaixo-assinado realizado pelos moradores do bairro”. Segundo os vizinhos da antiga pista, os principais problemas enfrentados eram o freqüente consumo de drogas e a violência que assombravam o local. “As pessoas vinham aqui e usavam drogas na porta da minha casa. Eu vi um rapaz ser baleado e morto aqui na pista de skate. Então, nós decidimos que aquilo deveria acabar e organizamos o abaixo-assinado”, explica Jacinto, um dos moradores do bairro. Ele reside exatamente ao lado da antiga pista. “Por mais que você goste do esporte, você jamais vai querer esse tipo de coisa acontecendo do lado da sua casa. Eu tenho filhos, as pessoas fumavam todo o tipo de droga e ainda urinavam na minha porta. A prefeitura até tentou estabelecer um horário em que a pista deveria fechar. Mas, depois do assassinato, ficou inviável continuar daquele jeito”, acrescentou ele.
Leia Dando Idéia completo com César Calejon na 100%SKATE #95, folheie abaixo: