”Objétulos – Esculturas Skatáveis” é o nome do curta-metragem realizado por skatistas frequentadores do viaduto Santa Tereza, um dos picos mais tradicionais do skate em Belo Horizonte (MG).

A ideia surge com a criação de objetos em formatos tridimensionais skatáveis e que foram inicialmente expostos em uma galeria. A ideia de levá-los às ruas é justamente uma forma de estudo de caso do que pode acontecer tanto aos objetos em si como a consequência disso para as pessoas que ali frequentam: por quanto tempo ali permanecerão, quanto cuidado ou a falta do mesmo jeito receberão, quais interpretações, usos e nomes podem receber, e todas essas surpresas que podem nunca antes terem sido imaginadas nem mesmo por quem as criou.

O filme foi gravado em outubro de 2019 e até hoje os obstáculos permanecem no local, já com quebrados e imperfeições que só fazem com que a criatividade de seus usuários seja cada vez mais testada e surpreendente.

A premiere online de ”Objétulos – Esculturas Skatáveis” acontece no dia 01/10, as 20 horas, em nosso canal no YouTube.

 

 

Ver essa foto no Instagram

 

Uma publicação compartilhada por CemporcentoSKATE (@cemporcentoskate) em

 

Leia mais sobre o filme no texto Bernardo Barros.

 


 

22 de junho de 2018, Festival Desviante em Belo Horizonte: foi aí que tudo começou.
Como arquiteto e urbanista de formação, novas formas e geometrias sempre me inspiraram muito, mas, ao mesmo tempo, sempre me senti bem distante dos grandes edifícios e obras monumentais às quais eu era apresentado na academia: eu gostava da rua, dos pedestres, e da forma como essa interação acontecia, tão orgânica e inspiradora.

A série Objétulos surge um pouco no conceito de microarquiteturas, que não contém usos e serviços em seu interior, mas que, por mais singelas que sejam suas dimensões, podem alimentar grandes mudanças nos usos e visões do espaço que as contém. E, em escalas menores, foi possível explorar de uma forma bem interessante os balanços, formas e tipologias arquitetônicas, que possuem grande relevância tanto em minha construção como nas cidades também.

As estruturas foram concebidas para estarem expostas em uma galeria, o que foi de grande importância para mim, porém elas não poderiam ser finalizadas junto com a exposição… eu sentia que elas deveriam ir além e extrapolar os limites daquele espaço. Exatamente um mês após a exposição, andando de skate, quebro minha perna em dois lugares: uma semana no hospital, duas operações e o psicológico bem abalado tornam tudo mais difícil por um tempo. Da galeria, as esculturas foram pro meu apartamento, espalhadas pelos cômodos, fiquei ali por meses sonhando com o dia que botaria elas “pra funcionar”. Dez meses depois, no meu primeiro role não tive duvidas, vou andar nelas! Escolhi uma que conseguia carregar numa boa e levei pra rua como um troféu, registrando minha volta ao carrinho. E tive certeza de que a rua era o lugar delas!

Daí surge a pergunta: mas onde vou deixá-las?
Elas tinham um valor sentimental pra mim, não queria que fossem levadas por alguém nas primeiras noites, queria que pudessem de fato fazer uma diferença onde estivessem. E é claro, vêm a mente o viaduto de Santa Tereza, um lugar de grande importância na cena cultural da cidade, além de um pico clássico de skate.

Algumas ligações, mensagens, e conseguimos equipamento para gravar e amigos pra ajudar no transporte. Fomos!
Inicialmente toda noite os objetulos eram guardados com os amigos do bar que fica ali do lado. Com o tempo, começamos a deixá-los soltos por ali, e, por incrível que pareça, resistiram a muitos dias e noites ali no baixo centro… participaram até mesmo do carnaval, e sobreviveram!

Porém, com a pandemia, o viaduto deixou de ser ocupado pelas pessoas que estavam ali diariamente: skatistas, boêmios, simpatizantes e artistas… com isso, perdemos o maior deles, e o menor foi todo quebrado. E aí ficou muito claro para mim a importância dessas pessoas na cidade e espaços públicos… citando Jane Jacobs, são elas os “olhos da rua”, e protegem muito mais do que câmeras e pessoas fardadas. Um espaço público heterogêneo e vivo é de grande importância para as cidades, e é isso que deve ser valorizado e levado a sério pelos responsáveis por elas. Cidades não são apenas para se consumir ou trabalhar, mas são também e principalmente um local para se criar, interagir e sociabilizar.

Tendo dito tudo isso, fica aqui meu convite para assistirem a premiere que vai rolar no dia 01/10 pelo canal da 100% skate, e meus agradecimentos a todo mundo que de alguma forma fez isso acontecer… Gabriel Loureiro, Alexandre Alvarenga, Raphael Alves, Matheus Araújo e Lucas Desiderio que manobraram bonito, Bernardo Vasconcellos que fez dirigiu e fez o vídeo acontecer, e todo mundo que de alguma forma somou pra que isso acontecesse!